Mostrar código-fonte de Implantação da República Portuguesa

{{Info/Evento histórico
|nome=Implantação da República
|imagem        =Estremoz13.jpg
|legenda       =Ilustração alusiva à ''Proclamação da República Portuguesa'' a 5 de outubro de 1910
|outros_nomes  =Revolução de 5 de Outubro de 1910
|participantes =[[Monarquia|Monárquicos]] / [[República|Republicanos]]
|localização   =[[Portugal]]
|data=de [[2 de outubro|2]] a {{Dtlink|5|10|1910|idade}}
|resultado     =
* Fim da ''[[Monarquia constitucional (Portugal)|Monarquia Constitucional]]''
* Implantação de um [[República|regime republicano]]
* Início da [[Primeira República Portuguesa|Primeira República]]
}}
[[Ficheiro:Implantação da republica.ogg|thumb|Implantação da República Portuguesa — Introdução]]

A '''Implantação da República Portuguesa''' foi o resultado de uma [[revolução]] organizada pelo [[Partido Republicano Português]], iniciada no dia 2 de outubro e vitoriosa na madrugada do dia [[5 de outubro]] de [[1910]], que destituiu a [[monarquia constitucional (Portugal)|monarquia constitucional]] e implantou um [[República|regime republicano]] em [[Portugal]].

O [[ultimato britânico de 1890]],{{Ref infopedia|name=infop1|$implantacao-da-republica|Implantação da República|30-8-2010}} os gastos da [[Família real portuguesa|família real]],<ref>{{citar web|url=http://avenidadaliberdade.org/index.php?content=1175&co_template=10|titulo=A Ditadura de João Franco e a autoria moral e política de D.&nbsp;Carlos|publicado=avenidadaliberdade.org|acessodata=30-8-2010|wayb=20120119071242|urlmorta=yes}}</ref> o poder da [[Igreja Católica|igreja]], a instabilidade política e social, o [[rotativismo|sistema de alternância]] de dois partidos no poder (o [[Partido Progressista (Portugal)|Partido Progressista]] e o [[Partido Regenerador]]), a ditadura de [[João Franco]],<ref>{{citar web|url=http://www.vidaslusofonas.pt/joaofranco.htm|titulo=João Franco|publicado=Vidas Lusófonas|acessodata=30-8-2010|wayb=20110515101356|urlmorta=yes}}</ref> a aparente incapacidade de acompanhar a evolução dos tempos e se adaptar à modernidade — tudo contribuiu para um inexorável processo de erosão da [[monarquia]] portuguesa<ref>{{citar web|url=http://www.cm-palmela.pt/NR/rdonlyres/2699A4EF-465D-4C5E-B8D7-C4544B81B2B0/39794/Escolas1Republica.pdf|titulo=1ª Republica - Dossier temático dirigido às Escolas|publicado=Rede Municipal de Bibliotecas Públicas do concelho de Palmela|acessodata=30-8-2010|arquivourl=https://www.webcitation.org/643itnlZr|arquivodata=19 de dezembro de 2011|urlmorta=yes}}</ref> do qual os defensores da [[república]], particularmente o [[Partido Republicano Português|Partido Republicano]], souberam tirar o melhor proveito.<ref>{{citar web|url=http://in-devir.com/index.php?option=com_content&task=view&id=176&Itemid=37|titulo=5 de Outubro de 1910: a trajectória do republicanismo|publicado=In-Devir|acessodata=30-8-2010|wayb=20110622212517|urlmorta=yes}}</ref> Por contraponto, o partido republicano apresentava-se como o único que tinha um programa capaz de devolver ao país o prestígio perdido e colocar Portugal na senda do progresso.{{
nre|A este propósito ver {{Citar livro|nome=Antero de|sobrenome=Quental|título=Prosas sócio-políticas |subtítulo=publicadas e apresentadas por Joel Serrão|local=Lisboa|editora=Imprensa Nacional-Casa da Moeda|ano=1982|páginas=248}} - citado na secção "O Partido Republicano" deste artigo.}}

Após a relutância do exército em combater os cerca de dois mil soldados e marinheiros revoltosos entre 3 e 4 de outubro de 1910, a República foi proclamada às 9 horas da manhã do dia seguinte da varanda dos [[Paços do Concelho de Lisboa]].<ref>{{citar web|url=http://www.leme.pt/biografias/portugal/presidentes/castro.html|titulo=Primeira República - Biografia de João de Canto e Castro|publicado=www.leme.pt|acessodata=30-8-2010}}</ref> Após a revolução, um [[Governo Provisório da República Portuguesa|governo provisório]] chefiado por [[Teófilo Braga]] dirigiu os destinos do país até à aprovação da [[Constituição portuguesa de 1911|Constituição de 1911]] que deu início à [[Primeira República Portuguesa|Primeira República]].{{ref infopedia|nlk=s|$constituicao-de-1911|Constituição de 1911|9-9-2010}} Entre outras mudanças, com a implantação da República, foram substituídos os [[símbolos nacionais]]: o [[A Portuguesa|hino nacional]], a [[Bandeira de Portugal|bandeira]] e a moeda.<ref name=r2010/><ref name=pub2/>

== Antecedentes ==
=== O ultimato britânico e o 31 de janeiro ===
{{Artigo principal|Ultimato britânico de 1890|Revolta de 31 de janeiro de 1891}}
[[Ficheiro:Implantação-Antecedentes.ogg|thumb|Implantação da República Portuguesa — Antecedentes — O ultimato britânico e o 31 de janeiro]]

[[Imagem:Mapa Cor-de-Rosa.svg|thumb|O Mapa Cor-de-Rosa, que originou o ultimato britânico de 1890]]

A 11 de janeiro de 1890 o governo britânico de [[Robert Gascoyne-Cecil|Lord Salisbury]] enviou ao governo português um [[ultimato]],<ref>{{citar web|url=http://www.soberaniadopovo.pt/portal/index.php?news=13083|titulo=Política: O Ultimato Inglês e o 31 de Janeiro de 1891|publicado=Soberania do Povo|acessodata=30-8-2010|wayb=20140930205309|urlmorta=yes}}</ref> na forma de "Memorando", exigindo a retirada das forças militares portuguesas chefiadas pelo major [[Alexandre de Serpa Pinto|Serpa Pinto]] do território compreendido entre as colónias de [[Angola]] e [[Moçambique]] (nos actuais [[Maláui]], [[Zimbabwe]] e [[Zâmbia]]), zona reivindicada por Portugal ao abrigo do [[Mapa Cor-de-Rosa]].<ref>{{citar web|url=http://www.republica2010.com/datas/datas_ultimatum.php|titulo=Ultimatum de 1890|publicado=Almanaque da República|acessodata=27-8-2010|wayb=20111230061833|urlmorta=yes}}</ref>

A pronta cedência portuguesa às exigências britânicas foi vista como uma humilhação nacional por amplas franjas da população e das elites,{{ref infopedia|nlk=s|$trinta-e-um-de-janeiro-de-1891|Trinta e Um de Janeiro de 1891|30-8-2010}} iniciando-se um profundo movimento de descontentamento em relação ao novo [[rei de Portugal]], [[Carlos I de Portugal|D. Carlos]], à família real e à instituição da monarquia, vistos como responsáveis pelo alegado processo de ''decadência nacional''. A situação agravou-se com a severa crise financeira ocorrida entre 1890-1891, quando as remessas dos [[emigrante]]s no Brasil caíram 80% com a chamada [[crise do encilhamento]]<ref name="HdP292" /> na sequência da [[Proclamação da República do Brasil|proclamação]] da [[República Velha|república]] no Brasil dois meses antes,<ref>{{citar livro|url=http://books.google.com/books?id=KetpijSSLv8C&pg=PA644|título=World and Its Peoples|língua=en|editora=Marshall Cavendish|ano=2009|isbn=0761478922}}</ref> acontecimento que era seguido com apreensão pelo governo monárquico<ref>{{citar livro|último=Homem|primeiro=Amadeu Carvalho|último2=Silva|primeiro2=Armando Malheiro da|último3=Isaia|primeiro3=Artur Cesar|url=http://books.google.com/books?id=6T1ymTE2i6wC&pg=PA96|título=Progresso e religião: a república no Brasil e em Portugal 1889-1910|editora=Imprensa da Universidade de Coimbra|ano=2007|isbn=989807406X}}</ref> e com júbilo pelos defensores da república em Portugal.<ref>{{citar livro|último=Livermore|primeiro=H. V.|url=http://books.google.com/books?id=7Cd0bKhByz8C&pg=PA33|título=Portugal: a traveller's history|editora=Boydell Press|ano=2004|isbn=1843830639}}</ref><ref>{{citar livro|último=Gallagher|primeiro=Tom|url=http://books.google.com/books?id=-xu8AAAAIAAJ&pg=PA17|língua=en|título=Portugal: a twentieth-century interpretation|editora=Manchester University Press ND|ano=1983|isbn=071900876X}}</ref> Os republicanos souberam capitalizar este descontentamento, iniciando um crescimento e alargamento da sua base social de apoio que acabaria por culminar no derrube do regime.{{nre|1=O Partido Republicano […] soube capitalizar em seu favor a crise económica que se abateu sobre o país e o descrédito em que se encontravam os partidos do rotativismo monárquico. Num tom violento e populista, desdobrava-se em violentas críticas ao rei e aos seus governos, que identificava com a «decadência nacional». Ao longo da década de 80 do século XIX, a expressão eleitoral do Partido Republicano foi crescendo e, com ela, cresceu também o clima de exaltação patriótica.<ref>{{citar web|primeiro=Paulo|último=Vicente|url=http://in-devir.com/index.php?option=com_content&task=view&id=176&Itemid=37|titulo=O 5 de Outubro de 1910: a trajectória do republicanismo|publicado=In-Devir|acessodata=27-8-2010|wayb=20110622212517|urlmorta=yes}}</ref>}}

[[Imagem:31 de Janeiro, proclamação.jpg|thumb|A [[revolta de 31 de janeiro de 1891]], a primeira tentativa de proclamação da república em Portugal, nos Paços do Concelho do [[Porto]]]]

Em 14 de janeiro o governo [[Partido Progressista (Portugal)|progressista]] caiu e o líder [[Partido Regenerador|regenerador]] [[António de Serpa Pimentel]] foi nomeado para formar novo governo.<ref>{{citar web|url=http://www.portugal.gov.pt/pt/GC18/Governo/ArquivoHistorico/ChefesGoverno/Pages/pms.aspx|titulo=Chefes do Governo desde 1821|publicado=Website do Governo da República Portuguesa|ano=2009|acessodata=26-9-2010}}</ref> Os progressistas passaram então a atacar o rei D. Carlos, votando em candidatos republicanos nas eleições de março desse ano, contestando o acordo colonial então assinado com os britânicos.<ref name="HdP292" /> Alimentando um ambiente de quase insurreição, a 23 de março de 1890, [[António José de Almeida]], na época estudante da [[Universidade de Coimbra]] e, mais tarde, [[Lista de presidentes da República Portuguesa|Presidente da República]], publicou um artigo com o título "''Bragança, o último''",<ref>{{citar web|url=http://www.presidencia.pt/?idc=13&idi=32|titulo=Antigos Presidentes: António José de Almeida|publicado=Página Oficial da Presidência da República Portuguesa|acessodata=30-8-2010}}</ref> que seria considerado calunioso para o rei e o levaria à prisão.

A 1 de abril de 1890, o velho explorador [[António Francisco da Silva Porto|Silva Porto]] imolou-se envolto numa bandeira portuguesa no [[Kuito]], em [[Angola]], após negociações falhadas com os locais, sob ordens de [[Paiva Couceiro]], o que atribuiu ao ''ultimatum''. A morte do que fora um dos rostos da exploração interior africana gerou uma onda de comoção nacional<ref>{{Citar livro|nome=Maria Emília Madeira|sobrenome=Santos|url=http://books.google.com/books?id=f4d4qtYuYQYC&pg=PA27|título=Silva Porto e os problemas da África portuguesa no século XIX |subtítulo=Série Separatas / Centro de Estudos de Cartografia Antiga|local=Coimbra|editora=Junta de Investigações Científicas do Ultramar|ano=1983|páginas=27|volume=149}}</ref> e o seu funeral foi seguido por uma multidão no Porto.<ref>{{citar web|url=http://km-stressnet.blogspot.com/2008/02/silva-porto-do-brasil-frica.html|título=Silva Porto: do Brasil a África|acessodata=7 de maio de 2010|data=24 de fevereiro de 2008}}</ref><ref>{{citar livro|nome=René|sobrenome=Pélissier|título=Campanhas coloniais de Portugal, 1844-1941|editora=Estampa|ano=2006|páginas=27|isbn=9723323052}}</ref> A 11 de abril foi posto à venda o ''Finis Patriae'' de [[Guerra Junqueiro]], ridicularizando a figura do rei.<ref>{{citar web|url=http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1223027734K4zTZ2wh1Lu94TC4.pdf|titulo=Política externa e política interna no Portugal de 1890: o Ultimatum Inglês|último=Teixeira|primeiro=Nuno Severiano|periódico=Análise Socia|publicado=Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa|acessodata=30-8-2010|volume=XXIII|número=98|ano=1987|páginas=687–719}}</ref>

Na cidade do [[Porto]], no dia 31 de janeiro de 1891, registou-se um levantamento militar contra a monarquia constituído principalmente por [[Sargento (militar)|sargentos]] e [[praça]]s.<ref name="livria">{{citar web|url=http://pt.livra.com/item/a-revolta-de-31-de-janeiro-de-1891/65552803/|titulo=A revolta de 31 de Janeiro de 1891|publicado=Livra Portugal|acessodata=30-8-2010|wayb=20110129075141|urlmorta=yes}}</ref> Os revoltosos, que tinham como hino uma canção de cariz patriótico composta em reação ao ultimato britânico, ''[[A Portuguesa]]'',<ref name="presidencia Hino"/> tomaram os [[Paços do Concelho]], de cuja varanda, o jornalista e político republicano [[Augusto Manuel Alves da Veiga]] proclamou a implantação da república em Portugal e hasteou uma bandeira vermelha e verde, pertencente ao [[Centro Democrático Federal 15 de Novembro|Centro Democrático Federal]].{{
nre|De fundo vermelho com um grande círculo verde ao centro, esta bandeira está hoje exposta no [[Museu Nacional de Soares dos Reis|Museu Soares dos Reis]], no Porto.
}} O movimento foi, pouco depois, sufocado por um destacamento da guarda municipal que se manteve fiel ao governo, resultando 12 mortos e 40 feridos. Os revoltosos capturados foram julgados, tendo 250 sido condenados a penas entre os 18 meses e os 15 anos de degredo em [[África]].<ref>{{citar web|url=http://www.faroldanossaterra.net/1891-revolta-militar-de-31-de-janeiro-no-porto/|titulo=1891: Revolta militar de 31 de Janeiro, no Porto|publicado=Farol da Nossa Terra|acessodata=30-8-2010}}</ref> ''A Portuguesa'' foi proibida.

Embora tendo fracassado, a revolta de 31 de janeiro de 1891 foi a primeira grande ameaça sentida pelo regime monárquico e um prenúncio do que viria a suceder quase duas décadas mais tarde.{{
nre|"''O levantamento militar de 31 de Janeiro de 1891, no Porto, foi a primeira tentativa de derrube do regime monárquico pela força. Desde 1880, quando das comemorações do tricentenário de Camões, que, em crescendo, o ideal republicano e a capacidade de organização dos seus militantes, inclusive no seio das Forças Armadas, fazia prever uma rebelião. […] Tendo fracassado no plano militar […], o movimento de 31 de Janeiro foi, por assim dizer, uma vitória histórica, pois transformou-se numa data fetiche, num símbolo, para os republicanos que, dezanove anos depois triunfariam.''"<ref>{{citar web|url=http://www.aventar.eu/2010/01/31/centenario-da-republica-31-de-janeiro|título=31 de Janeiro (Centenário da República)|acessodata=4-9-2010|último=Loures|primeiro=Carlos}}</ref>}}

=== O Partido Republicano ===
{{Caixa de citação
|largura =30%
|citação =O pensamento e a ciência são republicanos, porque o génio criador vive de liberdade e só a República pode ser verdadeiramente livre […] O trabalho e a indústria são republicanos, porque a actividade criadora quer segurança e estabilidade e só a República […] é estável e segura […] A República é, no Estado, liberdade […] na indústria, produção; no trabalho, segurança; na nação, força e independência. Para todos, riqueza; para todos, igualdade; para todos, luz."
|autor   =— [[Antero de Quental]], ''República'', 11 de maio de 1870<ref>{{Citar livro|nome=Antero de|sobrenome=Quental|título=Prosas sócio-políticas |subtítulo=publicadas e apresentadas por Joel Serrão|local=Lisboa|editora=Imprensa Nacional-Casa da Moeda|ano=1982|páginas=248}}</ref>
|posição-autor =right
}}

O movimento revolucionário de 5 de outubro de 1910 deu-se na sequência da ação doutrinária e política que, desde que foi criado em 1876, o [[Partido Republicano Português]] (PRP) foi desenvolvendo, com o objetivo de derrubar o regime monárquico.<ref name=pcout1>{{citar web|último=Pereira Coutinho|primeiro=Lourenço|url=http://www.centenariodarepublica.org/centenario/2009/09/04/parte-i-%E2%80%93-os-primeiros-passos-da-fundacao-ao-centenario-de-camoes-187680/|titulo=História do Partido Republicano Português - Parte I|publicado=Centenário da República - vamos fazer história!|acessodata=31-8-2010}}</ref>

Ao fazer depender o renascimento nacional do fim da monarquia, o Partido Republicano conseguiu demarcar-se do [[Partido Socialista Português]], que defendia a colaboração com o regime em troca de regalias para a classe operária, e atraiu em torno de si a simpatia dos descontentes.<ref name=pcout1/>

Deste modo, os desentendimentos dentro do partido acabaram por residir mais em questões de estratégia política do que ideológica. O rumo ideológico do republicanismo português já fora traçado muito antes, pelas obras de [[José Félix Henriques Nogueira]], pouco se alterando ao longo dos anos, exceto em termos de adaptação posterior à realidade do país. Para isso contribuíram as obras de [[Teófilo Braga]] que tentou concretizar as ideias descentralizadoras e federalistas, abandonando o caráter socialista em prol dos aspetos democráticos. Esta mudança visou, também, cativar a pequena e média [[burguesia]], que se tornou uma das principais bases de militância republicana. Nas eleições de 13 de outubro de 1878 o PRP conseguiu eleger o seu primeiro deputado, [[José Joaquim Rodrigues de Freitas]], pelo Porto.<ref>{{citar web|url=http://lagosdarepublica.wikidot.com/xv-rodrigues-de-freitas-primeiro-deputado-da-republica|titulo=Rodrigues de Freitas, Primeiro Deputado da República|acessodata=31-8-2010}}</ref>

[[Imagem:Comicio republicano em Lisboa.jpg|thumb|esquerda|[[Azedo Gneco]] discursando num comício republicano em [[Lisboa]]]]

Pretendeu-se também que o derrube da monarquia tivesse uma mística messiânica, unificadora, nacional e acima de interesses particulares das diversas classes sociais.{{
nre|"''Ser republicano, por 1890, 1900 e 1910, queria dizer ser contra a Monarquia, contra a Igreja e os Jesuítas, contra a corrupção política e os partidos monárquicos. […] A tendência geral era para se conceder à palavra República algo de carismático e místico, e para acreditar que bastaria a sua proclamação para libertar o País de toda a injustiça e de todos os males''". A. H. de Oliveira Marques (coord.). "Portugal – Da Monarquia para a República" in ''Nova História de Portugal'', Volume XI, Lisboa, Editorial Presença, 1991, p.&nbsp;372. cit in Artur Ferreira Coimbra. ''[http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/6989/1/Paiva%2520Couceiro%2520e%2520a%2520contra-revolu%25C3%25A7%25C3%25A3o.pdf Paiva Couceiro e a Contra-Revolução Monárquica (1910-1919)]''. Braga, Universidade do Minho, 2000. pp. 13-14.
}} Esta [[panaceia]] que deveria curar, de uma vez, todos os males da Nação, reconduzindo-a à glória, foi acentuando cada vez mais duas vertentes fundamentais: o [[nacionalismo]] e o [[colonialismo]]. Desta combinação resultou o definitivo abandono do [[iberismo]], patente nas primeiras teses republicanas de José Félix Henriques Nogueira,<ref>{{citar web|url=http://www.arqnet.pt/dicionario/nogueirajosefelixhenriques.html|titulo=Nogueira (José Félix Henriques)|publicado=Portugal - Dicionário Histórico|acessodata=31-8-2010}}</ref> identificando-se os monárquicos e a monarquia com antipatriotismo e cedência aos interesses estrangeiros. Outra forte componente da ideologia republicana foi o acentuado [[anticlericalismo]],<ref>{{citar web|url=http://www.republica2010.com/datas/datas_igreja.php|titulo=Igreja e Estado|publicado=Almanaque da República|acessodata=27-8-2010|wayb=20111230100533|urlmorta=yes}}</ref> devido à teorização de Teófilo Braga, que identificou a religião como um empecilho ao progresso e responsável pelo atraso científico de Portugal, em oposição aos republicanos, vanguarda identificada com a ciência, o progresso e o bem-estar.{{
nre|Teófilo Braga, em carta escrita na sua juventude, prefigura já um implacável anticlericalismo: "''O padre há-de ser sempre uma sombra que se não dissipa nem à força de muita luz; envolve-nos, deixa-nos na solidão de nós mesmos, no tédio do vazio, quando a alegria transpira e ri lá fora por toda a parte; torna-nos pouco a pouco a vida um remorso, a esperança um nada impalpável, porque só no-la prometem para além da campa''"<ref>{{Citar livro|nome=A. Carvalho|sobrenome=Homem|título=A Ideia Republicana em Portugal |subtítulo=o Contributo de Teófilo Braga|local=Coimbra|editora=Minerva|ano=1989|páginas=172}} ''cit. in'' {{Citar livro|url=http://books.google.pt/books?id=EPswrQxdZwsC&pg=PP1|nome=Alírio|sobrenome=Queirós|título=A Recepção de Freud em Portugal|local=Coimbra|editora=Universidade de Coimbra|ano=2009|páginas=28}}</ref>}}

As questões ideológicas não eram, como se viu, fundamentais na estratégia dos republicanos: para a maioria dos seus simpatizantes, que nem sequer conhecia os textos dos principais manifestos, bastava ser contra a monarquia, contra a Igreja e contra a corrupção política dos partidos tradicionais. Esta falta de preocupação ideológica não quer dizer que o partido não se preocupasse com a divulgação dos seus princípios. A ação de divulgação mais eficaz foi a propaganda feita através dos seus comícios e manifestações populares e de jornais como ''A Voz Pública'', no Porto, e ''O Mundo'' (a partir de 1900) e ''[[A Luta]]'' (a partir de 1906), em Lisboa.<ref name=infop1/>

A propaganda republicana foi sabendo tirar partido de alguns factos históricos de repercussão popular. As comemorações do terceiro centenário da morte de [[Luís de Camões]], em 1880, e o ''[[Ultimato britânico de 1890|Ultimatum]]'' [[Reino Unido|britânico]], em 1890, por exemplo, foram amplamente aproveitadas, apresentando-se os republicanos como os verdadeiros representantes dos mais puros sentimentos nacionais e das aspirações populares.<ref name=pcout1/>

[[Imagem:Festas do Centenário de Camões (1880) - Chegada do Cortejo Cívico à Praça de Luís de Camões.png|thumb|upright|Cortejo cívico na [[Praça de Luís de Camões]], em Lisboa]]

O terceiro centenário de Camões foi comemorado com grandes cerimónias: um cortejo cívico que percorreu as ruas de Lisboa, no meio de grande entusiasmo popular e, também, a trasladação dos restos mortais de Camões e de [[Vasco da Gama]] para o [[Mosteiro dos Jerónimos]].<ref>{{citar web|url=http://www.mosteirojeronimos.pt/pt/index.php?s=white&pid=227|titulo=Vasco da Gama e Luís de Camões|acessodata=3-9-2010}}</ref> As luminárias e o ar de festa nacional que caracterizaram as comemorações complementaram o quadro de exaltação patriótica. A ideia das comemorações camonianas partira da [[Sociedade de Geografia de Lisboa]], mas a execução foi confiada a uma comissão constituída por, entre outros, Teófilo Braga, [[Ramalho Ortigão]], [[Jaime Batalha Reis|Batalha Reis]], [[Sebastião de Magalhães Lima|Magalhães Lima]] e [[João Chagas|Pinheiro Chagas]], figuras cimeiras do Partido Republicano.<ref>{{citar web|url=http://www.instituto-camoes.pt/revista/percursmemo.htm|titulo=O tricentenário de Camões|acessodata=3-9-2010|wayb=20090514024334|urlmorta=yes}}</ref>

Para além de Rodrigues de Freitas, também [[Manuel de Arriaga]], [[José Elias Garcia|Elias Garcia]], [[Zófimo Consiglieri Pedroso|Consiglieri Pedroso]], [[José Maria Latino Coelho|Latino Coelho]], [[Bernardino Pereira Pinheiro|Pereira Pinheiro]], [[Eduardo Abreu]], [[Francisco Teixeira de Queirós|Teixeira de Queirós]], [[José Jacinto Nunes|Jacinto Nunes]] e [[Francisco Gomes da Silva|Gomes da Silva]] foram eleitos deputados, representando o PRP em diversas sessões legislativas entre 1884 e 1894. Desta data e até 1900 não houve representação parlamentar republicana. Nesta fase, em que esteve afastado do parlamento, o partido empenhou-se na sua organização interna.<ref name=infop1/>

Após um período de grande repressão ao P.R.P., o movimento republicano pôde entrar novamente na corrida às legislativas em 1900, elegendo quatro deputados: [[Afonso Costa]], [[Alexandre Braga, filho|Alexandre Braga]], [[António José de Almeida]] e [[João Duarte de Meneses]].<ref name=infop1/>

=== O regicídio de 1908 ===
{{Artigo principal|Regicídio de 1908}}
[[Imagem:Regicídio (anónimo) (2).jpg|thumb|upright|Reconstituição anónima do [[Regicídio de 1908|Regicídio]] publicada no jornal "Folha Volante"]]

[[Imagem:O Conde de S. Lourenço empunhando o estandarte real e anunciando ao povo a Aclamação de D. Manuel II - Brasil-Portugal (N.º 224, 16 Mai 1908).png|thumb|upright|Aclamação de {{lknb|d=d|Manuel|II|de Portugal}} na varanda do [[Palácio de São Bento]], em Lisboa]]

A 1 de fevereiro de 1908, quando regressavam a Lisboa vindos de [[Vila Viçosa]], no [[Alentejo]], onde haviam passado a temporada de [[caça]], o rei [[Carlos I de Portugal|D.&nbsp;Carlos]] e o príncipe herdeiro [[Luís Filipe, Príncipe Real de Portugal|Luís Filipe]] foram assassinados em plena [[Praça do Comércio]].<ref name="MM">{{citar web|url=http://www.mundoportugues.org/content/1/2008/fevereiro-dia-que-monarquia-morreu/|titulo=1 de Fevereiro: O dia em que a Monarquia morreu|publicado=Mundo Portugues|acessodata=28-8-2010|wayb=20080828171104|urlmorta=yes}}</ref>

O atentado ficou a dever-se ao progressivo desgaste do sistema político português, vigente desde a [[Regeneração]],<ref name="BLX">{{citar web|url=http://blx.cm-lisboa.pt/gca/index.php?id=914|titulo=Quais os motivos que estão na base do regicídio?|publicado=Departamento de Bibliotecas e Arquivos, da Câmara Municipal de Lisboa|acessodata=30-8-2010}}</ref> em grande parte devido à erosão política originada pela alternância de dois partidos no poder: o [[Partido Progressista (Portugal)|Progressista]] e o [[Partido Regenerador|Regenerador]]. O rei, como árbitro do sistema político, papel que lhe era atribuído pela [[Constituição portuguesa de 1838|constituição]], havia designado [[João Franco]] para o lugar de presidente do Conselho de Ministros (chefe do governo).<ref>{{citar web|url=http://www.arqnet.pt/dicionario/francojoao.html|titulo=João Franco|publicado=Portugal - Dicionário Histórico|acessodata=30-8-2010}}</ref> Este, dissidente do Partido Regenerador, conseguiu convencer o rei a encerrar o parlamento para poder implementar uma série de medidas com vista à moralização da vida política.<ref name="BLX"/><ref name="ISCSP">{{citar web|url=http://www.iscsp.utl.pt/~cepp/governos_portugueses/1900-1910/joao_franco.htm|titulo=Governo de João Franco|publicado=www.iscsp.utl.pt|acessodata=30-8-2010|wayb=20110302233215|urlmorta=yes}}</ref> Com esta decisão acirrou-se toda a oposição, não só apenas a republicana, mas também a monárquica, liderada pelos políticos rivais de Franco que o acusavam de governar em ditadura.<ref name="ISCSP"/> Os acontecimentos acabaram por se precipitar na sequência da questão dos adiantamentos à Casa Real (regularização das dívidas régias ao Estado) e da assinatura do decreto de 30 de janeiro de 1908 que previa o degredo nas colónias, sem julgamento, aos envolvidos numa intentona republicana fracassada ocorrida dois dias antes, o [[Golpe de 28 de Janeiro de 1908|Golpe do Elevador da Biblioteca]].<ref name="bola">{{citar web|url=http://www.abola.pt/nnh/ver.aspx?id=193330|titulo=Do visconde de esgrima, as armas que mataram o rei...|publicado=A Bola|acessodata=30-8-2010|wayb=20100807141858|urlmorta=yes}}</ref>
{{Citação2|cinzabq=s|
1=Vi um homem de barba preta […] abrir a capa e tirar uma carabina […]. Quando [o] vi […] apontar sobre a carruagem percebi bem, infelizmente, o que era. Meu Deus, que horror o que então se passou! Logo depois do Buíça ter feito fogo […] começou uma perfeita fuzilada, como numa batida às feras! Aquele Terreiro do Paço estava deserto, nenhuma providência! Isso é que me custa mais a perdoar ao João Franco […]|
2=D. Manuel II <ref>{{citar web|autor=D.&nbsp;Manuel&nbsp;II|url=http://www.laicidade.org/wp-content/uploads/2008/01/relato-manuel-ii-01.pdf|título=O Atentado de 1 de Fevereiro. Documentos|publicado=Associação Cívica República e Laicidade, pp. 3 e 4|acessodata=27-8-2010}}</ref>
}}

A família real encontrava-se então no [[Paço Ducal de Vila Viçosa]],<ref name="bola"/> mas os acontecimentos levaram o rei D.&nbsp;Carlos a antecipar o regresso a Lisboa, tomando o comboio na estação de Vila Viçosa na manhã do dia 1 de fevereiro. A comitiva régia chegou ao [[Barreiro]] ao final da tarde, onde, para atravessar o [[rio Tejo|Tejo]], tomou o vapor D.&nbsp;Luís, desembarcando no [[Praça do Comércio|Terreiro do Paço]], em Lisboa, por volta das 17 horas.<ref name="hermoteca">{{citar web|url=http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/EFEMERIDES/Regicidio/Percurso.htm|titulo=Percurso histórico do Regicídio|publicado=Hemeroteca Digital|acessodata=30-8-2010}}</ref> Apesar do clima de grande tensão, o rei optou por seguir em [[carruagem]] aberta, com uma reduzida [[escolta]], para demonstrar normalidade.<ref name="bola"/> Enquanto saudavam a multidão presente na praça, a carruagem foi atingida por vários disparos. Um tiro de [[carabina]] atravessou o pescoço do rei,<ref name="hermoteca"/> matando-o imediatamente.<ref name="bola"/> Seguiram-se vários disparos, sendo que o [[Príncipe Real de Portugal|príncipe real]] conseguiu ainda alvejar um dos atacantes, sendo em seguida atingido na face por um outro disparo.<ref name="bola"/> A rainha, de pé, defendia-se com o ramo de flores que lhe fora oferecido, fustigando um dos atacantes, que subira o estribo da carruagem, gritando "Infames! Infames!".<ref name="HdP292">{{Citar livro|sobrenome=Ramos|nome=Rui|título=História de Portugal volume 6|editor=Círculo de Leitores|publicação=julho de 1993|páginas=292|capítulo=A «Vida Nova»|isbn=972-42-0971-7}}</ref> O infante D.&nbsp;Manuel foi também atingido num braço.<ref name="HdP292" /> Dois dos regicidas, [[Manuel Buíça]], professor primário, e [[Alfredo Luís da Costa|Alfredo Costa]], empregado do comércio e editor, foram mortos no local. Outros fugiram. A carruagem entrou no Arsenal da Marinha, onde se verificou o óbito do rei e do herdeiro ao trono.<ref name="HdP292" />

Após o atentado, o governo de João Franco foi demitido e foi lançado um rigoroso inquérito que, ao longo dos dois anos seguintes, veio a apurar que o atentado fora cometido por membros da [[Carbonária Portuguesa|Carbonária]].<ref>{{citar web|url=http://www.g-sat.net/g-sat-historia-1643/4-dinastia-d-carlos-o-martirizado-reinou-de-1889-a-1908-a-94641.html|titulo=4ª Dinastia D.&nbsp;Carlos – o “Martirizado” reinou de 1889 – a 1908|publicado=www.g-sat.net|acessodata=30-8-2010|wayb=20130920154309|urlmorta=yes}}</ref> O processo de investigação estava já concluído nas vésperas do 5 de outubro de 1910. Entretanto, tinham sido descobertos mais suspeitos de envolvimento direto, sendo que alguns estavam refugiados no [[Brasil]] e em [[França]] e dois, pelo menos, tinham sido mortos pela própria Carbonária.<ref>{{citar web|url=http://www.republica2010.com/datas/datas_regicidio_1908.php|titulo=Regicídio no Terreiro do Paço|publicado=Almanaque da República|acessodata=27-8-2010|wayb=20101207060627|urlmorta=yes}}</ref>

A Europa ficou chocada com este atentado, uma vez que D.&nbsp;Carlos era muito estimado pelos restantes chefes de estado europeus.{{
nre|"''O atentado horrorizará a Europa e o mundo. O facto de não ser um acto isolado de um anarquista ou de um par de fanáticos, mas um conluio organizado, chocará particularmente a comunidade internacional. Imagens das campas dos regicidas cobertas de flores são publicadas na imprensa inglesa com o título «Lisbon's Shame» (A vergonha de Lisboa)."''<ref>Nobre, Eduardo. "O regicídio de 1908" in revista ''Única'', 2004, p. 40.</ref>
}} O regicídio de 1908 acabou por abreviar o fim da monarquia ao colocar no trono o jovem {{nowrap|D. Manuel II}} e lançando os partidos monárquicos uns contra os outros.<ref name="MM"/>

=== A agonia da monarquia ===
[[Imagem:Deputados do Partido Republicano eleitos pelo Povo em 5 Abril de 1908.png|thumb|left|upright|Postal comemorativo da bancada republicana eleita em 1908]]

Devido à sua tenra idade (18 anos) e à forma trágica e sangrenta como alcançou o trono, {{lknb|d=d|Manuel|II|de Portugal}} auferiu inicialmente de uma simpatia generalizada.<ref>{{Citar livro|nome=Maria Cândida|sobrenome=Proença|título=D. Manuel II|subtítulo=Colecção "Reis de Portugal"|local=Lisboa|editora=Círculo de Leitores|ano=2006|páginas=100}}</ref> O jovem rei começou por nomear um governo de consenso, presidido pelo almirante [[Francisco Joaquim Ferreira do Amaral]]. Este governo de ''acalmação'', como ficou conhecido, apesar de lograr acalmar momentaneamente os ânimos, teve duração breve.<ref>D. Manuel II cit. em {{Citar livro|nome=José Hermano|sobrenome=Saraiva|título=História de Portugal|local=Lisboa|editora=Publicações Alfa|ano=1983|páginas=112|volume=6}}</ref> A situação política rapidamente voltou a degradar-se, tendo-se sucedido sete governos em dois anos. Os partidos monárquicos voltaram às costumeiras questiúnculas e divisões, fragmentando-se, enquanto o Partido Republicano continuava a ganhar terreno. Nas eleições de 5 de abril de 1908, a última legislativa completa na vigência da monarquia, o partido viu eleitos sete deputados: Mantiveram-se os quatro da bancada eleita em 1900 e juntaram-se-lhes [[Estêvão de Vasconcelos]], [[Feio Terenas]] e [[Manuel de Brito Camacho|Brito Camacho]].<ref>Segundo [[:Imagem:PortugalDeputadosRepublicanos1908postal.jpg|postal coevo]], estes sete eram: [[António José de Almeida|Antonio José d’Almeida]], [[Alexandre Braga, filho|Alexandre Braga]], [[Manuel de Brito Camacho|Brito Camacho]], [[Afonso Costa|Affonso Costa]], [[João Duarte de Meneses|João de Menezes]], [[Feio Terenas]], e [[Estêvão de Vasconcelos|Estevam Vasconcelos]] (''sic'').</ref> Nas eleições de 28 de agosto de 1910 o partido teve um resultado arrasador, duplicando a sua bancada ao eleger 14 deputados, dez deles por Lisboa.<ref>{{citar web|url=http://www.republica2010.com/datas/datas_governo.php|wayb=20120119211344|datali=2022|último=Sousa Pinto|primeiro=Miguel|titulo=Governo de Acalmação|publicado=Almanaque da República|acessodata=27-8-2010}}</ref>

No entanto, apesar dos evidentes êxitos eleitorais alcançados pelo movimento republicano, o setor mais revolucionário do partido advogava a luta armada como melhor meio de tomar o poder a curto prazo. Foi esta fação que saiu vitoriosa do congresso do partido realizado em [[Setúbal]] entre [[23 de abril|23]] e 25 de abril de 1909.<ref>{{citar web|url=http://www.republica2010.com/datas/datas_setubal.php|titulo=Congresso republicano|publicado=Almanaque da República|acessodata=27-8-2010|wayb=20111230103519|urlmorta=yes}}</ref> O diretório, composto pelos moderados [[Teófilo Braga]], [[Basílio Teles]], [[Eusébio Leão]], [[José Cupertino Ribeiro]] e [[José Relvas]], recebeu do congresso o mandato imperativo de ''fazer a revolução''. As funções logísticas de preparação da intentona foram confiadas a elementos mais radicais. O comité civil era formado por [[Afonso Costa]], [[João Chagas]] e [[António José de Almeida]], enquanto que o almirante [[Carlos Cândido dos Reis|Cândido dos Reis]] liderava o comité militar.<ref>{{citar web|url=http://www.republica2010.com/figuras/figuras_candido_reis.php|titulo=Cândido dos Reis|publicado=Almanaque da República|acessodata=27-8-2010|wayb=20100904194533|urlmorta=yes}}</ref> António José de Almeida ficou encarregue da organização das sociedades secretas, como a [[Carbonária]] — em cuja chefia se integrava o comissário naval [[António Maria de Azevedo Machado Santos|António Machado Santos]]<ref>{{citar web|url=http://www.republica2010.com/instituicoes/instituicoes_carbonaria.php|titulo=Instituições - Carbonária|publicado=Almanaque da República|acessodata=27-8-2010|wayb=20100929062623|urlmorta=yes}}</ref> —, a [[Maçonaria]]<ref>Sobre o papel da Maçonaria ver ''A Maçonaria e a Implantação da República'' citada na bibliografia</ref> e a "Junta Liberal", dirigida por [[Miguel Bombarda]]. A este eminente médico ficou a dever-se uma importante ação de propaganda republicana junto do meio burguês e que trouxe muitos simpatizantes à causa republicana.<ref>{{citar web|url=http://www.republica2010.com/figuras/figuras_bombarda.php|titulo=Miguel Bombarda|publicado=Almanaque da República|acessodata=27-8-2010|wayb=20100904194528|urlmorta=yes}}</ref>

O período entre o congresso de 1909 e a eclosão da revolução foi marcado por uma grande instabilidade e agitação política e social,<ref>{{citar web|url=http://www.republica2010.com/instituicoes/instituicoes_monarquia.php|titulo=Instituições - Monarquia terminal|publicado=Almanaque da República|acessodata=27-8-2010|wayb=20120120132606|urlmorta=yes}}</ref> com várias ameaças de sublevação pondo a revolução em risco devido à impaciência do pessoal da [[Marinha Portuguesa|marinha]], chefiado por Machado Santos,<ref>{{citar web|url=http://visao.sapo.pt/actualidade/portugal/2018-10-05-Sem-ele-nao-teria-havido-Republica-em-5-de-outubro-de-1910|titulo=Sem ele, não teria havido República em 5 de outubro de 1910|publicado=Revista Visão|acessodata=5-10-2017}}</ref> que estava disposto a todos os riscos.<ref>{{Citar livro|sobrenome=Ramos|nome=Rui|título=História de Portugal volume 6|editor=Círculo de Leitores|publicação=julho de 1993|página=380|capítulo=A «Vida Nova»|isbn=972-42-0971-7}}</ref>

{{Citação2|cinzabq=s|
1=As suas demonstrações de força [dos republicanos] nas ruas de Lisboa — por exemplo, a de 2 de agosto de 1909, que reuniu cinquenta mil pessoas, numa disciplina impressionante — fazem eco aos tumultos organizados na Assembleia por alguns deputados republicanos. Foi na noite desse dia 2 de agosto que compreendi que a coroa estava em jogo: quando o rei, com razão ou sem ela, é contestado ou rejeitado por uma parte da opinião, deixa de conseguir cumprir o seu papel unificador.|
2=[[Amélia de Orleães]]<ref>{{Citar livro|nome=Stéphane|sobrenome=Bern|título=Eu, Amélia, Última Rainha de Portugal|local=Porto|editora=Livraria Civilização Editora|ano=1999|páginas=172}}</ref>
}}

== A revolta ==
A 3 de outubro de 1910 estalou a revolta republicana que já se avizinhava no contexto da instabilidade política.<ref>{{citar web|url=http://www.citi.pt/cultura/historia/personalidades/afonso_costa/5outub3.html|titulo=Afonso Costa - 5 de Outubro de 1910|publicado=www.citi.pt|acessodata=31-8-2010}}</ref> Embora muitos envolvidos se tenham esquivado à participação — chegando mesmo a parecer que a revolta tinha falhado — esta acabou por suceder graças à incapacidade de resposta do governo, que não conseguiu reunir tropas que dominassem os cerca de duzentos revolucionários que na [[Praça do Marquês de Pombal (Lisboa)|Rotunda]] resistiam de armas na mão.<ref>{{citar web|url=http://www.prof2000.pt/users/jdsa03/olho/0405/1p04/5_de_outubro.htm|titulo=5 de Outubro de 1910|publicado=Olho Vivo|acessodata=31-8-2010}}</ref>

=== Os primeiros movimentos dos revolucionários ===
No verão de 1910 Lisboa fervilhava de boatos e várias vezes foi o presidente do Conselho de Ministros (primeiro-ministro) [[António Teixeira de Sousa|Teixeira de Sousa]], avisado de golpes iminentes.<ref>{{citar web|url=http://www.tintafresca.net/News/newsdetail.aspx?news=9ee73416-1a30-444e-be33-df582d159b89&edition=60|titulo=A revolução do 5 de Outubro de 1910|publicado=Tinta Fresca|acessodata=31-8-2010}}</ref> A revolução não foi exceção: o golpe era esperado pelo governo,<ref name=fms1>{{citar web|url=http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=00615|titulo=Assassinato de Miguel Bombarda|publicado=Fundação Mário Soares|acessodata=31-8-2010}}</ref> que a 3 de outubro deu ordem para que todas as tropas da guarnição da cidade ficassem de prevenção. Após o jantar oferecido em honra de {{lknb|d=d|Manuel|II|de Portugal}} pelo futuro [[Presidente do Brasil|presidente brasileiro]] [[Hermes da Fonseca]], então em visita de Estado a Portugal,<ref>{{citar web|url=http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=034854|titulo=Visita a Portugal do Presidente da República do Brasil, Marechal Hermes da Fonseca|publicado=Fundação Mário Soares|acessodata=31-8-2010}}</ref> o monarca recolheu-se ao [[Palácio das Necessidades|Paço das Necessidades]], enquanto seu tio e herdeiro jurado da coroa, o infante [[Afonso de Bragança, Duque do Porto|D. Afonso]], seguia para a [[Cidadela de Cascais]].<ref name=fms2>{{citar web|url=http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=00635|titulo=D.&nbsp;Manuel de Bragança parte para o exílio|publicado=Fundação Mário Soares|acessodata=31-8-2010}}</ref>

Após o assassinato de Miguel Bombarda, baleado por um dos seus pacientes,<ref name=fms1/><ref>{{citar web|url=http://www.centenariorepublica.pt/escolas/cronologia-5-outubro-1910/3%20Out.|titulo=O 5 de Outubro de 1910. Dia 3 Out.|publicado=Centenário da República|acessodata=31-8-2010|wayb=20090925172820|urlmorta=yes}}</ref> os chefes republicanos reuniram-se de urgência na noite de dia 3.<ref>{{citar web|url=http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=040981|titulo=Quartel-general nos Banhos de S. Paulo|publicado=Fundação Mário Soares|acessodata=31-8-2010}}</ref> Alguns oficiais foram contra, dada a prevenção das forças militares, mas o almirante [[Cândido dos Reis]] insistiu para que se continuasse, sendo-lhe atribuída a frase: "A Revolução não será adiada: sigam-me, se quiserem. Havendo um só que cumpra o seu dever, esse único serei eu".<ref>{{citar web|url=http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=034855|titulo=Reunião da Rua da Esperança|publicado=Fundação Mário Soares|acessodata=31-8-2010}}</ref><ref>{{Citar livro|nome=José|sobrenome=Relvas|título=Memórias Políticas|local=Lisboa|editora=Terra Livre|ano=1977|páginas=112}}</ref>
[[Imagem:Revoltosos nas barricadas rotunda 5 de outubro.jpg|thumb|esquerda|Revoltosos concentram-se na [[Praça do Marquês de Pombal (Lisboa)|Rotunda]]]]
Machado Santos já havia passado à ação e nem esteve na reunião. Este dirigiu-se ao aquartelamento do Regimento de Infantaria 16,<ref>{{citar web|url=http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=040980|titulo=Machado Santos prepara o assalto a Infantaria 16|publicado=Fundação Mário Soares|acessodata=31-8-2010}}</ref> onde um cabo revolucionário provocara o levantamento da maior parte da guarnição: um comandante e um capitão que se tentaram opor foram mortos a tiro. Entrando no quartel com umas dezenas de [[Carbonária|carbonários]], o comissário naval seguiu depois com cerca de 100 praças para o Regimento de Artilharia 1,<ref name="Hist.Port.-Medina">{{Citar livro|nome=João|sobrenome=Medina|título=História de Portugal |subtítulo=Monarquia Constitucional (II) - A República (I)|local=Amadora|editora=Edita Ediclube, Edição e Promoção do Livro|ano=2004|páginas=445|volume=XII|isbn=9727192696}}</ref> onde o capitão Afonso Palla e alguns sargentos, introduzindo alguns civis no quartel, já haviam tomado a secretaria, prendendo os oficiais que se recusaram a aderir.<ref>"Quartel de Compolide" in [http://revelarlx.cm-lisboa.pt/fotos/gca/1263999267painel_conspiracao_entradas.pdf Da Conspiração ao 5 de Outubro de 1910]</ref> Com a chegada de Machado Santos formaram-se duas colunas, que ficaram sob o comando dos capitães Sá Cardoso e Palla. A primeira marchou ao encontro aos regimentos Infantaria 2 e Caçadores 2, que deviam também estar sublevados, para seguir para [[Alcântara (Lisboa)|Alcântara]] onde deveriam apoiar o quartel de marinheiros. No percurso, cruzou-se com um destacamento da Guarda Municipal, pelo que procurou outro caminho. Depois de alguns confrontos com a polícia e civis, encontrou a coluna comandada por Palla e avançaram para a [[Praça do Marquês de Pombal (Lisboa)|Rotunda]], onde se entrincheiraram cerca das 5 horas da manhã. Compunha-se a força aí estacionada de 200 a 300 praças do Regimento de Artilharia 1, 50 a 60 praças de Infantaria 16 e cerca de 200 populares<ref name=df/> — dentre os quais haveria de sobressair uma mulher popular, [[Amélia Santos]].<ref name="Capital1911-10-14">{{citar periódico|data=1910-10-14|titulo=Uma Heroína: Amélia Santos, de carabina na mão, combateu na Rotunda, ao lado dos soldados|url=http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/ACapital/1910/Outubro/Outubro_item1/P53.html|periódico=[[A Capital (periódico português, 1910)|A Capital]]|número=106|página=1|acessodata=2018-2-15}}</ref> Os capitães Sá Cardoso e Palla e o comissário naval Machado Santos, estavam entre os 9 oficiais no comando.<ref name=df/>

{{Imagem múltipla|align=right|direction=vertical|width=250
|image1=Dom Carlos I (Adamastor (15225939616) (cropped)).jpg
|image2=Le Almirante Reis (Portugal).jpg
|footer=O [[cruzador]] português ''[[Dom Carlos I (cruzador)|Dom Carlos I]]'', renomeado ''Almirante Reis'' após a implantação da República (fotos de antes e depois)
}}

Entretanto, o tenente Ladislau Parreira e alguns oficiais e civis introduziram-se no Quartel do Corpo de Marinheiros de Alcântara a uma hora da madrugada e conseguiram armar-se, sublevar a guarnição e aprisionar os comandantes, tendo um destes ficado ferido.<ref name=cent4>{{citar web|url=http://www.centenariorepublica.pt/escolas/cronologia-5-outubro-1910/4%20Out.|titulo=O 5 de Outubro de 1910. Dia 4 Out.|publicado=Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República|acessodata=31-8-2010|wayb=20100925180523|urlmorta=yes}}</ref> Pretendia-se com esta ação impedir a saída do esquadrão de cavalaria da Guarda Municipal, o que foi conseguido.<ref>"Quartel do Corpo de Marinheiros de Alcântara" ''in'' {{Citar web|url=http://revelarlx.cm-lisboa.pt/fotos/gca/1263999267painel_conspiracao_entradas.pdf|wayb=20131004235023|datali=2022|título=Da Conspiração ao 5 de Outubro de 1910|publicado=Departamento de Bibliotecas e Arquivos da Câmara Municipal de Lisboa. RevelarLX.cm-lisboa.pt|acessodata=22-1-2022}}</ref> Para isto era necessário no entanto o apoio, em armas e homens, dos 3 navios de guerra ancorados no Tejo. Nestes o tenente [[José Mendes Cabeçadas|Mendes Cabeçadas]] havia tomado o comando da tripulação sublevada do [[cruzador]] ''[[NRP Adamastor|Adamastor]]'',<ref>{{Citar web|título=Antigos presidentes: Mendes Cabeçadas - Página Oficial da Presidência da República Portuguesa|acessodata=2010-09-08|url=http://www.presidencia.pt/?idc=13&idi=30}}</ref> enquanto a tripulação revoltada do "São Rafael" esperava um oficial para a comandar.

Pelas 7 da manhã Ladislau Parreira, sendo informado por populares da situação, despachou o segundo-tenente Tito de Morais para tomar o comando do ''São Rafael'', com ordens para que ambos os navios reforçassem a guarnição do quartel. Quando se soube que no ''{{lknb|Dom Carlos|I|(cruzador)}}'' a tripulação se encontrava sublevada mas os oficiais se haviam entrincheirado, saíram do ''São Rafael'' o tenente Carlos da Maia com alguns marinheiros e civis. Após algum tiroteio, de que resultaram feridos o comandante do navio e um tenente, os oficiais renderam-se ficando o ''D.&nbsp;Carlos I'' também na mão dos republicanos.<ref name=cent4/>

Foi a última unidade a juntar-se aos revoltosos que contava assim com parte do regimento de Artilharia 16 e de Artilharia 1, o corpo de marinheiros e os três navios citados. A marinha aderira em massa como esperado, mas muitos dos quartéis considerados simpatizantes não. Assim, os republicanos, somavam cerca de 400 homens na Rotunda, mas cerca de 1 000 a 1 500 em Alcântara, contando com as tripulações dos navios, além de se terem conseguido apoderar da [[artilharia]] da cidade, com a maioria das munições, ao que juntava a artilharia dos navios. Estavam ocupadas a Rotunda e Alcântara, mas a revolução ainda não estava decidida e os principais dirigentes ainda não haviam aparecido.<ref name=df/>

Mesmo assim, a princípio os acontecimentos não decorreram a favor dos revoltosos. O sinal de três tiros de canhão — que deveria ser o aviso para civis e militares avançarem — não resultou. Apenas um tiro foi ouvido e o almirante Cândido dos Reis, que esperava o sinal para tomar o comando dos navios, foi informado por oficiais que tudo falhara e retirou-se para casa da irmã. Ao amanhecer seria encontrado morto numa azinhaga em [[São Jorge de Arroios|Arroios]]. Desesperado, suicidara-se com um tiro na cabeça.<ref name=cent4/>

Entretanto, na Rotunda, o aparente sossego da cidade desalentava de tal maneira os revoltosos que os oficiais acharam melhor desistir. Sá Cardoso, Palla e os outros oficiais retiraram-se para suas casas, mas Machado Santos ficou e assumiu o comando.<ref name=cent4/> Esta decisão seria fundamental para o sucesso da revolução.

=== As forças do governo ===
[[Imagem:1910 Posto de socorros durante a Revolução do 5 de Outubro de 1910.jpg|thumb|Posto de socorros durante a Revolução de 5 de Outubro de 1910]]

[[Imagem:Revoltosos nas barricadas mulheres e homens 5 de outubro.jpg|thumb|Revoltosos [[Carbonária|carbonários]] na [[Praça do Marquês de Pombal (Lisboa)|Rotunda]]]]

A guarnição militar de Lisboa era constituída por quatro [[regimento]]s de [[infantaria]], dois de [[cavalaria]] e dois [[Batalhão|batalhões]] de [[Caçador (militar)|caçadores]], com um total teórico de {{Fmtn|6982}} efetivos. Mas, na prática, com os destacamentos militares colocados em funções de vigia e policiamento, nomeadamente nas fábricas do [[Barreiro]] devido ao surto [[greve|grevista]] e à agitação sindicalista que se verificava desde setembro.<ref>{{citar web|url=http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=00612|titulo=Alastra o surto de greves|publicado=Fundação Mário Soares|acessodata=1-9-2010}}</ref>

Já desde o ano anterior que as forças governamentais dispunham de um plano de ação, elaborado por ordem do comandante militar de Lisboa, general [[Manuel Rafael Gorjão Henriques]].<ref>Ferreira, David. "Gorjão, Manuel Rafael (1846-1918)" ''in'' Serrão, Joel (dir.) ''Dicionário de História de Portugal''. Porto, Livraria Figueirinhas, 1985, vol.&nbsp;III, p.&nbsp;133</ref> Quando, no fim da tarde de dia 3, o presidente do Conselho de Ministros [[António Teixeira de Sousa|Teixeira de Sousa]] o informou da eminência de uma revolução, foi logo dada ordem de prevenção às guarnições na cidade e chamadas de [[Santarém (Portugal)|Santarém]] as unidades Artilharia 3 e Caçadores 6, e de [[Tomar]], a de Infantaria 15.<ref name="Hist.Port.-Medina"/>

Assim que houve notícia do começo da revolta, o plano foi posto em prática: os regimentos de Infantaria 1, Infantaria 2, Caçadores 2 e Cavalaria 2, mais a [[bataria (unidade)|bataria]] de [[Queluz (cidade)|Queluz]], seguiram para o [[Palácio das Necessidades|Paço das Necessidades]] para proteger a pessoa do rei, enquanto Infantaria 5 e Caçadores 5 marcharam para o [[Praça de D. Pedro IV|Rossio]], com a missão de proteger o quartel-general.<ref name=cent4/>

Quanto às forças policiais a guarda municipal foi, de acordo com o plano, distribuída pela cidade para proteger pontos estratégicos como a [[Estação Ferroviária do Rossio|Estação do Rossio]], a Fábrica de Gás, a [[Imprensa Nacional-Casa da Moeda|Casa da Moeda]], a estação dos correios no Rossio, o [[Convento do Carmo (Lisboa)|quartel do Carmo]], o depósito de munições de Beirolas e a casa do presidente do Conselho de Ministros enquanto lá esteve reunido o governo. Da guarda fiscal (total de {{formatnum:1397}} efetivos) há poucas informações, apenas que alguns soldados estiveram com as tropas no Rossio. A polícia civil (total de 1,2&nbsp;mil efetivos) ficou nas esquadras. Esta inação retirara, portanto, cerca de 2,6&nbsp;mil efetivos às forças do governo.<ref name=df>David Ferreira, "Outubro de 1910, 5 de" in Joel Serrão (dir.) ''Dicionário de História de Portugal''. Porto : Livraria Figueirinhas, 1985, vol. IV, pp. 500-504</ref>

=== Os combates ===
O facto de terem alinhado, do lado monárquico, algumas unidades cujas simpatias estavam com os republicanos (de tal maneira que estes esperavam que se tivessem também sublevado) conjugado com o abandono, do lado dos revoltosos, do plano de acção original, optando-se pelo entrincheiramento na [[Praça do Marquês de Pombal (Lisboa)|Rotunda]] e em [[Alcântara (Lisboa)|Alcântara]], levou a que durante todo o dia 4 a situação se mantivesse num impasse, correndo pela cidade os mais variados boatos acerca de vitórias e derrotas.<ref name=df/>

[[Imagem:O Bombardeamento do Paço das Necessidades - Ilustração Portuguesa, 14Nov1910.png|thumb|upright|esquerda|Reconstituição (fantasista) do bombardeamento naval às [[Palácio das Necessidades|Necessidades]], publicada na imprensa estrangeira]]

Assim que se teve notícia da concentração de revoltosos na Rotunda, o comando militar da cidade organizou um destacamento para os atacar. Formavam essa coluna, sob o comando do coronel Alfredo Albuquerque, unidades retiradas da proteção do Palácio das Necessidades: Infantaria 2, Cavalaria 2 e a bateria móvel de Queluz. Desta última fazia parte o herói das guerras coloniais, [[Henrique Mitchell de Paiva Couceiro|Henrique de Paiva Couceiro]]. A coluna avançou até perto da Penitenciária onde assumiu posições de combate.<ref name=cent4/> Antes de estas estarem concluídas, no entanto, foram atacados por revoltosos. O ataque foi repelido, mas a custo de alguns feridos, vários animais de carga mortos e da debandada de cerca de metade da infantaria. Paiva Couceiro respondeu ao fogo com os canhões e a infantaria que restava durante três quartos de hora, ordenando um ataque que foi levado a cabo por cerca de 30 soldados, mas que foi repelido com algumas baixas. Continuando com o fogo, ordenou novo ataque, mas apenas conseguiu que cerca de 20 praças o acompanhassem. Achando ter chegado o momento ideal para o assalto ao quartel de Artilharia 1, Paiva Couceiro pediu reforços ao comando da divisão apenas para receber a desconcertante ordem para retirar.<ref name=pub1>{{citar web|url=http://jornal.publico.pt/noticia/20-08-2010/a-revolucao-no-seu-dia-inicial-19922945.htm|título=República: A revolução no seu "dia inicial"|acessodata=5-9-2010|último=Homem|primeiro=Amadeu Carvalho|obra=Público}}</ref>

Entretanto havia-se formado uma coluna com o propósito de atacar simultaneamente os revoltosos na Rotunda, mas tal não chegou a ocorrer, porque foi dada ordem de retirar. A coluna chegou ao [[Praça de D. Pedro IV|Rossio]], ao fim da tarde, sem sequer ter combatido. Tal inação não se deveu a qualquer incompetência do seu comandante, o general António Carvalhal, pois como ficou provado no dia seguinte ao ser nomeado chefe da Divisão Militar pelo governo republicano, as suas lealdades eram outras.<ref name=df/>

Os reforços da província, esperados pelo governo ao longo de todo o dia 4, nunca chegaram. Apenas as unidades já mencionadas e chamadas aquando das medidas preventivas é que receberam as ordens de marcha. Desde o início da revolução que os carbonários tinham desligado os [[Telegrafia|fios telegráficos]] impedindo assim as mensagens de chegarem às unidades de fora de Lisboa.<ref name=cent4/> Além disso, na posse de informação acerca das unidades alertadas, os revolucionários tinham cortado as [[Ferrovia|linhas férreas]]<ref>{{citar web|url=http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=00633|titulo=Paiva Couceiro bombardeia a Rotunda e a Armada anuncia desembarque|publicado=Fundação Mário Soares|acessodata=15-9-2010}}</ref> pelo que, obrigadas a marchar, estas nunca chegariam a tempo. Da [[Península de Setúbal|Margem Sul]], mais próxima, também era improvável a chegada de reforços, visto que os navios revoltosos dominavam o [[rio Tejo|rio]].<ref>{{citar web|url=http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=034858|titulo=Cruzador D. Carlos passa-se para os republicanos|publicado=Fundação Mário Soares|acessodata=22-9-2010}}</ref>

Ao final do dia a situação era difícil para as forças monárquicas: os navios sublevados tinham estacionado junto ao [[Praça do Comércio|Terreiro do Paço]] e o [[São Rafael (cruzador)|cruzador São Rafael]] fez fogo sobre os edifícios dos ministérios,<ref>{{citar web|url=http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=034857|titulo=Armada bombardeia o Rossio|publicado=Fundação Mário Soares|acessodata=22-9-2010}}</ref><ref>{{citar web|url=http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=00622|titulo=Cruzadores S. Rafael e Adamastor bombardeiam o Palácio das Necessidades|publicado=Fundação Mário Soares|acessodata=22-9-2010}}</ref> perante o olhar atónito do corpo diplomático brasileiro, a bordo do [[encouraçado São Paulo (1909)|couraçado "São Paulo"]] no qual viajava o presidente eleito [[Hermes da Fonseca]].<ref>{{citar web|url=http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=034854|titulo=Visita a Portugal do Presidente da República do Brasil, Marechal Hermes da Fonseca|publicado=Fundação Mário Soares|acessodata=22-9-2010}}</ref>

Este bombardeamento minou o moral das forças no Rossio, que se julgavam entre dois fogos, nomeadamente Rotunda e Alcântara.<ref name=df/>

=== A saída do rei de Lisboa ===
[[Imagem:La reine Amelie et le Roi Manuel en tête-à-tête (focus).jpg|thumb|upright|esquerda|D. Manuel II e [[Amélia de Orleães|D.&nbsp;Amélia]] no Palácio das Necessidades em junho de 1910]]

Depois do banquete com Hermes da Fonseca, {{lknb|d=d|Manuel|II|de Portugal}} regressara ao Paço das Necessidades, ficando na companhia de alguns oficiais. Jogavam ''[[bridge (jogo de cartas)|bridge]]''<ref name="reiMafra">{{citar web|url=http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=040984|titulo=O rei foge para Mafra|publicado=Fundação Mário Soares|acessodata=1-9-2010}}</ref> quando os revolucionários começaram a bombardear o local.<ref>{{citar web|url=http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=040983|titulo=Ordem para o bombardeamento do Palácio das Necessidade|publicado=Fundação Mário Soares|acessodata=1-9-2010}}</ref> O rei tentou telefonar, mas encontrou a linha cortada, conseguindo apenas informar a [[Maria Pia de Saboia|rainha-mãe]], no [[Palácio Nacional da Pena|Palácio da Pena]], acerca da situação. Pouco depois chegaram unidades realistas que conseguem repelir os ataques dos revolucionários, embora as balas atingissem as janelas.

Cerca das nove horas o rei recebeu um telefonema do presidente do Conselho, aconselhando-o a procurar refúgio em [[Mafra (Portugal)|Mafra]] ou [[Sintra]], dado que os revoltosos ameaçavam bombardear o Paço das Necessidades. {{nowrap|D. Manuel II}} recusou-se a partir, dizendo no entanto aos presentes: "Vão vocês se quiserem, eu fico. Desde que a constituição não me marca outro papel senão o de me deixar matar, cumpri-lo-ei".<ref>{{Citar livro|nome=Rocha|sobrenome=Martins|título=D. Manuel II|subtítulo=História do seu Reinado e da Implantação da República|local=Lisboa|editora=edição do autor|ano=1931–1933|páginas=521}}</ref>

Com a chegada da bateria móvel de [[Queluz (Portugal)|Queluz]], as peças foram dispostas nos jardins do palácio de forma a poderem bombardear o revoltado quartel dos marinheiros, que ficava a escassos 100&nbsp;metros do paço. No entanto, antes de poder começar, o comandante da bateria recebeu ordem de cancelar o bombardeamento e juntar-se às forças que saiam do paço, integradas na coluna que iria atacar os revoltosos na Artilharia&nbsp;1 e na Rotunda. Cerca do meio-dia os cruzadores ''Adamastor'' e ''São Rafael'', que desde há uma hora haviam fundeado em frente ao quartel dos marinheiros, começaram a bombardear o [[Paço das Necessidades]], o que desmoralizou as forças monárquicas aí presentes. O rei refugiou-se numa pequena casa no parque do palácio de onde conseguiu telefonar a [[António Teixeira de Sousa|Teixeira de Sousa]],<ref name="reiMafra"/> pois os revolucionários apenas haviam cortado as linhas de telefone especiais do estado mas não as da rede geral. Ordenou ao primeiro-ministro que mandasse para as Necessidades a bateria de Queluz para impedir o desembarque dos marinheiros, mas este retorquiu-lhe que a ação principal se passava na Rotunda e que todas as tropas eram aí necessárias. Tendo em conta que as tropas disponíveis não eram suficientes para cercar os revoltosos na Rotunda, o ministro fez ver ao rei a conveniência de se retirar para Sintra ou Mafra de forma a libertar as forças estacionadas no Paço para sua proteção e que eram necessárias na Rotunda.<ref name="reiMafra"/>

Às duas da tarde as viaturas com o {{nowrap|D. Manuel II}} e seus assessores partiram do palácio em direção a Mafra, onde a [[Escola Prática de Infantaria]] disporia de forças suficientes para proteger o soberano. Logo ao início da [[Benfica (Lisboa)|Estrada de Benfica]] o rei libertou o esquadrão da guarda municipal que o escoltava para que viessem ajudar os seus companheiros a lutar contra os revolucionários. A comitiva chegou sem problemas a Mafra cerca das quatro da tarde, mas aí depararam com um problema: devido às férias, não se encontravam na Escola Prática mais do que 100 praças, ao invés das 800 que seria de esperar e o comandante, coronel Pinto da Rocha, afirmou não dispor de meios para proteger o rei.<ref>{{Citar livro|nome=Pedro Soares|sobrenome=Martínez|título=A República Portuguesa e as Relações Internacionais (1910-1926)|local=Lisboa|editora=Verbo|ano=2001|páginas=40-41|isbn=9722220349}}</ref> Entretanto, chegou de Lisboa o Conselheiro João de Azevedo Coutinho que aconselhou o rei a chamar a Mafra as rainhas [[Amélia de Orleães|D.&nbsp;Amélia]] e [[Maria Pia de Saboia|D.&nbsp;Maria Pia]] (respectivamente a mãe e a avó do rei) que estavam nos Palácios da Pena e da [[Palácio Nacional de Sintra|Vila]], em [[Sintra]], e a preparar-se para seguir para o [[Porto]], para aí organizar a resistência.<ref name=cent4/>{{nre|Esta sequência de eventos foi grandemente simplificada e adulterada na posterior “lenda urbana” propalada em propaganda ao Palácio da Pena, tido por local onde «se refugiou a Família Real portuguesa ao dealbar da República em 4 de outubro de 1910, dali partindo no dia seguinte para a Ericeira, a caminho do exílio», como é dito, por exemplo, no documentário de 1938 ''Sintra, a Maravilha Verde'', realizado por José César de Sá (01′55″-02′07″).}}

Em Lisboa, a saída do rei não trouxera grandes vantagens pois as tropas assim libertas, apesar de receberem repetidas ordens do quartel-general para marcharem para o [[Praça D. Pedro IV|Rossio]] para impedirem a concentração de artilharia revoltosa em [[Alcântara (Lisboa)|Alcântara]], a maioria desobedeceu.<ref name=df/>

=== O triunfo da revolução ===
[[Imagem:Revoltosos nas barricadas marcha com a bandeira da carbonaria.jpg|thumb|Marcha com a bandeira da [[Carbonária]] na [[Praça do Marquês de Pombal (Lisboa)|Rotunda]] em 5 de outubro de 1910]]

[[Imagem:Visconde da Ribeira Brava celebra a revolução de 5 de Outubro de 1910.jpg|thumb|[[Francisco Correia de Herédia|Francisco Correia de Herédia, 1.º&nbsp;Visconde da Ribeira Brava]], a celebrar a implantação da república]]

À noite do dia 4 a moral encontrava-se baixa entre as tropas monárquicas estacionadas no [[Praça de D. Pedro IV|Rossio]], devido ao perigo constante de serem bombardeadas pelas forças navais e nem as baterias de Couceiro, aí colocadas estrategicamente, traziam conforto. No quartel-general discutia-se a melhor posição para bombardear a [[Praça do Marquês de Pombal (Lisboa)|Rotunda]]. Às três da manhã, Paiva Couceiro partiu com a bateria móvel, escoltado por um esquadrão da guarda municipal, e instalou-se no Jardim de Castro Guimarães, no [[Jardim do Torel|Torel]], aguardando a madrugada.<ref name=df/> Quando as forças da Rotunda começaram a disparar sobre o Rossio, revelando a sua posição, Paiva Couceiro abriu fogo provocando baixas e semeando a confusão entre os revoltosos. O bombardeamento prosseguiu com vantagem para os monárquicos, mas às oito da manhã Paiva Couceiro recebeu ordem para cessar-fogo, pois iria haver um [[armistício]] de uma hora.<ref>{{citar web|url=http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=00620|titulo=A noite de 4 para 5 de Outubro|publicado=Fundação Mário Soares|acessodata=1-9-2010}}</ref>

Entretanto no Rossio, depois de Paiva Couceiro ter saído com a bateria, o moral das tropas monárquicas, julgando-se desamparadas, piorou ainda mais, devido às ameaças de bombardeamento por parte das forças navais.<ref>{{citar web|url=http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=034857|titulo=Armada bombardeia o Rossio|publicado=Fundação Mário Soares|acessodata=1-9-2010}}</ref> Infantaria 5 e alguns elementos de Caçadores 5 garantiram que não se oporiam ao desembarque de marinheiros. Face a esta confraternização com o inimigo, os comandantes destas formações dirigiram-se então ao quartel-general onde foram surpreendidos pela notícia do armistício.

{{Citação2|cinzabq=s|
1=Proclamada por importantes forças do exército, por toda a armada e auxiliada pelo concurso popular, a República tem hoje o seu primeiro dia de História. A marcha dos acontecimentos, até à hora em que escrevemos, permite alimentar toda a esperança de um definido triunfo. […] Não se faz ideia do entusiasmo que corre na cidade. O povo está verdadeiramente louco de satisfação. Pode dizer-se que toda a população de Lisboa está na rua vitoriando a república.|
2=Jornal ''O Mundo'', 5 de outubro de 1910
}}

[[Imagem:Proclamação República Portuguesa.jpg|thumb|Proclamação da república por José Relvas na varanda dos Paços do Concelho de Lisboa]]

O novo representante alemão, chegado na antevéspera, instalara-se no Hotel Avenida Palace, lugar de residência de muitos outros estrangeiros. A proximidade do edifício da zona dos combates não o poupou a estragos. Perante este perigo, o diplomata tomou a resolução de intervir. Dirigiu-se ao quartel-general e pediu ao general Gorjão Henriques um cessar-fogo que lhe permitisse evacuar os cidadãos estrangeiros. Sem comunicar ao governo, e talvez na esperança de ganhar tempo para a chegada dos reforços da província, o general acede.<ref>{{citar web|url=http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=034862|titulo=Encarregado de negócios da Alemanha pede armistício e precipita a vitória republicana|publicado=Fundação Mário Soares|acessodata=1-9-2010}}</ref>

O diplomata alemão, acompanhado de um ordenança com a bandeira branca, dirige-se à Rotunda para acertar o armistício com os revoltosos. Mas eis que estes, vendo a bandeira branca, julgaram que a força opositora se rendia, pelo que saem entusiasticamente das fileiras e juntam-se ao povo, que sai das ruas laterais e se junta numa grande aglomeração gritando vivas à república.<ref name=pub1/> Na Rotunda, Machado Santos a princípio não aceita o armistício, mas perante os protestos do diplomata acede. De seguida, e vendo o maciço apoio popular à revolta nas ruas, temerariamente dirige-se ao quartel-general, acompanhado de muitos populares (aos quais se haveriam de juntar os oficiais que abandonaram as posições na Rotunda).

A situação no Rossio, com a saída dos populares à rua era muito confusa, mas já favorável aos republicanos, dado o evidente apoio popular. Machado Santos confronta o general Gorjão Henriques com o facto consumado e convida-o a manter-se no comando da divisão mas este recusa. Machado Santos entrega assim o comando ao general António Carvalhal que sabia ser republicano. Pouco depois, pelas 9 horas da manhã, era proclamada a república por [[José Relvas]],<ref>{{citar web|url=http://ww1.rtp.pt/noticias/?t=Jose-Relvas-proclamou-a-Republica-a-5-de-Outubro-de-1910.rtp&headline=20&visual=9&tm=8&article=284424|titulo=José Relvas proclamou a República a 5 de Outubro de 1910|publicado=RTP|acessodata=31-8-2010|arquivourl=https://archive.is/20120629085041|arquivodata=29 de junho de 2012|urlmorta=yes}}</ref> na varanda do [[Paços do Concelho de Lisboa|edifício da Câmara Municipal de Lisboa]], após o que foi nomeado um [[Governo Provisório da República Portuguesa|Governo Provisório]], presidido por membros do [[Partido Republicano Português]], com o fito de governar a nação até que fosse aprovada uma nova [[Constituição portuguesa de 1911|Lei Fundamental]].

A revolução saldou-se em algumas dezenas de baixas. O número rigoroso não é conhecido, mas sabe-se que, até ao dia 6 de outubro, tinham dado entrada na morgue 37 vítimas mortais da revolução. Vários feridos recorreram a hospitais e postos de socorros da cidade, alguns deles vindo, mais tarde, a falecer. Por exemplo, dos 78 feridos que deram entrada no [[Hospital de São José (Lisboa)|Hospital de São José]], 14 faleceram nos dias seguintes.<ref>{{citar web|url=http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=00725|titulo=Vítimas da revolução|publicado=Fundação Mário Soares|acessodata=1-9-2010}}</ref>

=== O embarque da família real para o exílio ===
[[Imagem:PraiaEriceira(1910.10.05,15h00).jpg|thumb|Embarque da [[Família real portuguesa|família real]] no [[iate]] real ''[[Amélia IV (iate)|Amélia]]'', na Praia dos Pescadores da [[Ericeira]]]]

Em Mafra, na manhã do dia 5 de outubro, o rei procurava um modo de chegar ao Porto, ação muito difícil de levar a cabo por terra dada a quase inexistência de uma escolta e os inúmeros núcleos de revolucionários espalhados pelo país. Cerca do meio-dia era entregue ao [[presidente da câmara municipal]] de [[Mafra (Portugal)|Mafra]] a comunicação do novo [[governador civil]], ordenando que se arvorasse a bandeira republicana. Pouco depois o comandante da [[Escola Prática de Infantaria]] recebe também um [[telegrama]] do seu novo comandante informando-o da nova situação política.<ref name=fms2/> A posição da [[família real portuguesa|família real]] tornava-se precária.

A solução aparece quando chega a notícia de que o [[Amélia IV (iate)|iate real "Amélia"]] fundeara ali perto, na [[Ericeira]]. Às duas da manhã o iate havia recolhido da [[Cidadela de Cascais]] o tio e herdeiro ao trono, D.&nbsp;Afonso, e sabendo o rei em Mafra, havia rumado à Ericeira por ser o ancoradouro mais próximo. Tendo a confirmação da proclamação da república e o perigo próximo da sua prisão, {{nowrap|D. Manuel II}} decide embarcar com vista a dirigir-se ao Porto.<ref name=fms2/> A família real e alguns acompanhantes dirigiram-se à Ericeira de onde, por meio de dois barcos de pesca e perante os olhares curiosos dos populares embarcaram no iate real.<ref>{{citar web|url=http://www.mafra.net/ericeira/index.php|titulo=A juga do rei|publicado=''Guia do concelho de Mafra''|acessodata=31-8-2010|wayb=20100529063343|urlmorta=yes}}</ref>

Uma vez a bordo, o rei escreveu ao primeiro-ministro:
{{Citação2|cinzabq=s|
1=Meu caro Teixeira de Sousa, Forçado pelas circunstâncias vejo-me obrigado a embarcar no ''yacht'' real "Amélia". Sou português e sê-lo-ei sempre. Tenho a convicção de ter sempre cumprido o meu dever de Rei em todas as circunstâncias e de ter posto o meu coração e a minha vida ao serviço do meu País. Espero que ele, convicto dos meus direitos e da minha dedicação, o saberá reconhecer! Viva Portugal! Dê a esta carta a publicidade que puder.|
2=D. Manuel II<ref>{{Citar livro|nome=Rocha|sobrenome=Martins|título=op. cit.|páginas=583}}</ref>
}}

Depois de garantir que a carta chegaria ao seu destino, o rei fez saber que queria ir para o Porto. Reuniu-se um conselho com o soberano, os oficiais e parte da comitiva. O comandante João Agnelo Velez Caldeira Castelo Branco e o imediato João Jorge Moreira de Sá opuseram-se à opinião do soberano, alegando que se o Porto não os recebesse o navio dificilmente teria combustível para chegar a outro ancoradouro. Perante a insistência de {{nowrap|D. Manuel II}}, o imediato argumentou que levavam a bordo toda a família real, pelo que era o seu primeiro dever salvar essas vidas. O porto de destino escolhido foi [[Gibraltar]]. Aí tomou conhecimento que também o Porto tinha aderido à causa republicana. D.&nbsp;Manuel ordenou que o navio, por ser propriedade do Estado português, voltasse a Lisboa. O rei deposto, no entanto, viveria o resto dos seus dias no exílio.<ref>{{Citar livro|nome=Joaquim Veríssimo|sobrenome=Serrão|título=História de Portugal |subtítulo=A Primeira República (1910-1926)|local=Lisboa|editora=Editorial Verbo|ano=1997|páginas=39|volume=IX}}</ref>

== Os primeiros passos da República ==
=== Atuação do Governo Provisório ===
{{Artigo principal|Governo Provisório da República Portuguesa}}
[[Imagem:Auto da Proclamação da República Portuguesa.png|thumb|upright=1.3|''Auto da Proclamação da Republica Portuguesa'']]

[[Imagem:Portuguese Provisional Government, 1910.jpg|upright=1.3|thumb|upright=1.3|[[Governo Provisório da República Portuguesa]] em 1910]]

No dia 6 de outubro de 1910, o ''Diário do Governo'' anunciava: "Ao Povo Português — Constituição do Governo Provisório da República — Hoje, 5 de outubro de 1910, às onze horas da manhã, foi proclamada a República de Portugal na sala nobre dos Paços do Município de Lisboa, depois de terminado o movimento da Revolução Nacional. Constituiu-se, imediatamente o Governo Provisório: Presidência, Joaquim Teófilo Braga; Interior, António José de Almeida; Justiça, Afonso Costa; Fazenda, Basílio Teles; Guerra, António Xavier Correia Barreto; Marinha, Amaro Justiniano de Azevedo Gomes; Estrangeiros, Bernardino Luís Machado Guimarães; Obras Públicas, António Luís Gomes".<ref>''Diário do Governo'' de 6 de outubro de 1910, cit. in David Ferreira, "Governo Provisório Republicano" in ''Dicionário de História de Portugal'', direcção de Joel Serrão. Porto, Livraria Figueirinhas, 1985, vol. III, p. 142.</ref>

Por decreto de 8 de outubro o Governo Provisório determinou a nova nomenclatura dos ministérios, sendo as modificações mais importantes as que atingiram os ''do Reino'', ''da Fazenda'' e ''das Obras Públicas'', que passaram a denominar-se, respectivamente, ''do Interior'', ''das Finanças'' e ''do Fomento.''<ref>{{citar web|url=http://www.iscsp.utl.pt/~cepp/governos_portugueses/i_republica/g._provisorio_1910-1911.htm|titulo=Governo Provisório: de 5 de Outubro de 1910 a 3 de Setembro de 1911. 334 dias|publicado=Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas - Universidade Técnica de Lisboa|acessodata=31-8-2010|wayb=20110306064530|urlmorta=yes}}</ref> No entanto, [[Basílio Teles]] recusou, nem chegando sequer a tomar posse da pasta para que fora nomeado, sendo, no dia 12, substituído por [[José Relvas]].{{
nre|Teófilo Braga, em entrevista ao jornal ''Dia'' de 2 de abril de 1913, referiu: "''Esse sujeito [José Relvas], logo nos primeiros dias da revolução apresentou-se-nos no conselho de ministros e disse: 'Como o Basílio Teles não vem para as finanças, eu queria ficar no lugar dele.' Eu fiquei mesmo parado, a olhar para o Bernardino [Machado], pasmado do impudor. […] Mas o homem depois tornou-se a impor […], e ficou ministro das Finanças''" ''in'' <ref>Consiglieri, Carlos (org). ''Teófilo Braga e os republicanos''. Lisboa, Vega, 1987</ref>
}} Em 22 de novembro, [[Manuel de Brito Camacho|Brito Camacho]] entrou também para o governo, na vaga aberta pela saída de [[António Luís Gomes]], nomeado embaixador de Portugal no [[Rio de Janeiro]].<ref>{{citar web|url=http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=00640|titulo=Proclamação da República nos Paços do Concelho de Lisboa e anúncio do Governo Provisório|publicado=Fundação Mário Soares|acessodata=31-8-2010}}</ref>

{{Citação2|cinzabq=s|
1=Os ministros [do Governo Provisório], inspirando-se num alto sentimento patriótico, procuraram sempre traduzir em suas medidas as mais altas e mais instantes aspirações do velho Partido Republicano, em termos de conciliar os interesses permanentes da sociedade com a nova ordem de coisas, inevitavelmente derivada do facto da revolução.|
2=[[Teófilo Braga]], 21 de junho de 1911<ref>Teófilo Braga discursando perante a Assembleia Nacional Constituinte, cit. in David Ferreira, "Governo Provisório Republicano" in ''Dicionário de História de Portugal'', direcção de Joel Serrão. Porto, Livraria Figueirinhas, 1985, vol. III, p. 144.</ref>
}}

Durante o tempo que esteve em funções, o Governo Provisório tomou uma série de medidas importantes e que tiveram um efeito duradouro. Para apaziguar os ânimos e reparar as vítimas da monarquia, foi concedida uma ampla amnistia para crimes contra a segurança do Estado, contra a religião, de desobediência, de uso de armas proibidas, etc..<ref>{{citar web|url=http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=035024|titulo=Amnistia|publicado=Fundação Mário Soares|acessodata=1-9-2010}}</ref> A [[Igreja Católica]] ressentiu-se bastante das medidas tomadas pelo Governo Provisório. Entre estas destacam-se a expulsão da [[Companhia de Jesus]] e das [[Ordem religiosa|ordens]] do [[clero regular]], o encerramento dos [[convento]]s, a proibição do ensino religioso nas escolas, a abolição do juramento religioso nas cerimónias civis e a [[Laicismo|laicização do Estado]] pela separação entre a Igreja e o Estado. Foi institucionalizado o [[divórcio]]<ref>{{citar web|url=http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=035023|titulo=Promulgada a Lei do Divórcio|publicado=Fundação Mário Soares|acessodata=1-9-2010}}</ref> e a legalidade dos [[Casamento civil|casamentos civis]], a igualdade de direitos no [[casamento]] entre [[homem]] e [[mulher]], a regularização jurídica dos [[Filiação ilegítima|filhos naturais]];<ref>{{citar web|url=http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=035004|titulo=Leis da Família|publicado=Fundação Mário Soares|acessodata=31-8-2010}}</ref> a protecção à [[infância]] e aos [[idoso]]s, a reformulação das leis da [[imprensa]], a extinção dos [[título nobiliárquico|títulos nobiliárquicos]] e o reconhecimento do direito à [[greve]].<ref>{{citar web|url=http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=035026|titulo=Direito à greve|publicado=Fundação Mário Soares|acessodata=31-8-2010}}</ref> O Governo Provisório optou, ainda, pela extinção das então [[Guarda Nacional Republicana#Guarda Municipal|guardas municipais]] de [[Lisboa]] e do Porto, substituídas por um novo corpo público de defesa da ordem, a [[Guarda Nacional Republicana]]. Para as [[Império Português|colónias]], criou-se legislação com vista a conceder autonomia às [[províncias ultramarinas]], condição necessária ao seu desenvolvimento. Entretanto, foram alterados também os [[Símbolo nacional|símbolos nacionais]] — a [[Bandeira de Portugal|bandeira]] e o [[A Portuguesa|hino]] —, foi adotada uma nova unidade monetária — o [[Escudo português|escudo]], a equivaler a mil [[Real (moeda portuguesa)|réis]]<ref>{{Citar livro|nome=António Miguel|sobrenome=Trigueiros|título=A grande história do escudo português|local=Lisboa|editora=Colecções Philae|ano=2003|páginas=444}}</ref> — e até a [[ortografia da língua portuguesa]] foi simplificada e devidamente regulamentada, através da [[Reforma Ortográfica de 1911]].<ref>{{citar web|url=http://www.publico.clix.pt/Sociedade/uma-revolucao-democratica-ou-a-vitoria-de-extremistas_1420605?all=1|titulo=Uma revolução democrática ou a vitória de extremistas?|publicado=''Público''|acessodata=31-8-2010|wayb=20100809221707|urlmorta=yes}}</ref>

O Governo Provisório gozou de amplos poderes até à abertura oficial da [[Assembleia Nacional Constituinte]], em 19 de junho de 1911, na sequência das eleições de 28 de maio desse ano.<ref>{{citar web|url=http://www.iscsp.utl.pt/~cepp/eleicoes_portuguesas/1911._ac.htm|titulo=Eleições de 1911 (28 de Maio)|publicado=Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas - Universidade Técnica de Lisboa|acessodata=31-8-2010|wayb=20130612053028|urlmorta=yes}}</ref> Nesse momento, o presidente do Governo Provisório, [[Teófilo Braga]], entregou à Assembleia Nacional Constituinte os poderes que lhe haviam sido conferidos a 5 de outubro de 1910. No entanto, a Assembleia aprovou por aclamação a proposta apresentada ao congresso pelo seu presidente [[Anselmo Braamcamp Freire]]: "A Assembleia Nacional Constituinte confirma, até ulterior deliberação, as funções do Poder Executivo ao Governo Provisório da República".

Dois meses mais tarde, com a aprovação da [[Constituição portuguesa de 1911|Constituição Política da República Portuguesa]] e a eleição do primeiro [[Presidente da República Portuguesa|presidente constitucional da República]] — [[Manuel de Arriaga]] —, a 24 de agosto, o Governo Provisório apresentou a sua demissão, que foi aceite a 3 de setembro de 1911 pelo presidente da república, pondo fim a um mandato de mais de 10 meses.<ref>{{Citar livro|nome=Joaquim Veríssimo|sobrenome=Serrão|título=op. cit.|páginas=141}}</ref> Começava a [[Primeira República Portuguesa|Primeira República]].

=== Alteração dos símbolos nacionais ===
Com a implantação da República, os [[Símbolo nacional|símbolos nacionais]] foram modificados. Por decreto datado de 15 de outubro de 1910 do Governo Provisório, foi nomeada uma comissão encarregada de os criar.<ref>{{citar web|url=http://www.presidencia.pt/?idc=44|titulo=Bandeira Nacional|publicado=Página Oficial da Presidência da República Portuguesa|acessodata=27-8-2010}}</ref> A modificação dos símbolos nacionais, segundo o historiador [[Nuno Severiano Teixeira]], surgiu da dificuldade que os Republicanos enfrentaram para representar a República: ''«Na monarquia o rei tem um corpo físico e portanto é uma pessoa reconhecível e reconhecida pelos cidadãos. Mas a república é uma ideia abstracta.»''<ref name=pub2>{{citar web|url=http://jornal.publico.pt/noticia/25-08-2010/um-busto-e-um-hino-consensuais--e-uma-bandeira-polemica-20050890.htm|titulo=Um busto e um hino consensuais - e uma bandeira polémica|publicado=''Público''|acessodata=27-8-2010}}</ref>

==== A bandeira ====
[[Imagem:Lisboa April 2014-8a.jpg|thumb|Bandeira da República Portuguesa no {{lknb|Parque Eduardo|VII}}, Lisboa]]

{{Artigo principal|Bandeira de Portugal}}

Em relação à bandeira, existiam duas tendências: uma de manter as cores azul e branca, tradicional das bandeiras portuguesas, e outra de usar cores "mais republicanas": verde e vermelho.<ref name=pub2/> A proposta da comissão sofreu várias alterações, sendo o desenho final retangular, com os dois quintos próximos da haste com a cor verde e os três quintos, do lado do batente, com a cor vermelha.<ref>{{citar web|url=http://www.portugal.gov.pt/PT/GC17/PORTUGAL/SIMBOLOSNACIONAIS/EVOLUCAODABANDEIRANACIONAL/Pages/BandeiraNacional_Evolucao.aspx|titulo=Evolução da bandeira nacional|publicado=Arquivo Histórico do Governo de Portugal|acessodata=1-9-2010}}</ref><ref>{{citar web|url=http://www.tuvalkin.web.pt/terravista/guincho/1421/bandeira/pt.htm|último=Martins|primeiro=António|titulo=Bandeira de Portugal|publicado=www.tuvalkin.web.pt|acessodata=1-9-2010|wayb=20100803164136|urlmorta=yes}}</ref> A [[Verde|cor verde]] foi escolhida por ser a "cor da esperança", enquanto o [[vermelho]] é uma cor "combativa, quente, viril, por excelência". Na união das duas cores, o [[Escudo (heráldica)|escudo]] das armas nacionais orlado a branco, sobre a [[esfera armilar]] [[Estilo manuelino|manuelina]].<ref>{{citar web|url=http://www.portugal.gov.pt/PT/GC17/PORTUGAL/SIMBOLOSNACIONAIS/BANDEIRANACIONAL/Pages/BandeiraNacional.aspx|titulo=Bandeira Nacional|publicado=Arquivo Histórico do Governo de Portugal|acessodata=1-9-2010}}</ref> O projeto da bandeira foi aprovado pelo Governo Provisório por um voto a 29 de novembro de 1910. No dia 1 de dezembro foi celebrada a Festa da Bandeira, frente à Câmara Municipal de Lisboa.<ref name=r2010>{{citar web|url=http://www.republica2010.com/instituicoes/instituicoes_simbolos.php|titulo=Símbolos da República|publicado=Almanaque da República|acessodata=27-8-2010|wayb=20101002115430|urlmorta=yes}}</ref> A Assembleia Nacional Constituinte promulgou a escolha da bandeira em 19 de junho de 1911.<ref>{{citar web|url=http://www.portugal.gov.pt/PT/GC17/PORTUGAL/SIMBOLOSNACIONAIS/DECRETOQUEAPROVAABANDEIRANACIONAL/Pages/Decreto_Bandeira_Nacional.aspx|titulo=Decreto que aprova a Bandeira Nacional|publicado=Arquivo Histórico do Governo de Portugal|acessodata=1-9-2010}}</ref>
==== O hino nacional ====
{{Artigo principal|A Portuguesa}}
{{limpar}}
<div style="float:right; margin-left:0.75em">
''[[Hymno da Carta]]'' (1826–1910) [[Ficheiro:Hino da Carta.ogg]]<br>''[[A Portuguesa]]'' (1910–presente) [[Ficheiro:A Portuguesa.ogg]]
</div>
Em 19 de junho de 1911 a [[Assembleia Nacional Constituinte]] proclamou "A Portuguesa" como [[hino nacional]]<ref>{{citar web|url=http://debates.parlamento.pt/page.aspx?cid=r1.c1911|titulo=Diário da Assembleia Nacional Constituinte - 1911|publicado=Assembleia da República|acessodata=31-8-2010|arquivourl=http://arquivo.pt/wayback/20090520202420/http://debates.parlamento.pt/page.aspx?cid=r1.c1911#|arquivodata=20 de maio de 2009|urlmorta=yes}}</ref><ref>{{citar web|url=http://www.presidencia.pt/archive/doc/19110619.pdf|titulo=Decreto da Assembleia Nacional Constituinte de 19 de Junho|data=19 de junho de 1911|publicado=Página Oficial da Presidência da República Portuguesa|acessodata=26-9-2010}}</ref> em substituição do ''[[Hymno da Carta]]'', anterior hino nacional desde maio de 1834, inscrevendo-a como símbolo nacional na [[Constituição portuguesa de 1911]]. ''A Portuguesa'' fora composta em 1890, com música de [[Alfredo Keil]] e letra de [[Henrique Lopes de Mendonça]],<ref name="presidencia Hino"/> em reação ao [[Ultimato britânico de 1890|''Ultimatum'' inglês]].{{ref infopedia|nlk=s|name=infop2|$a-portuguesa-(hino)|A Portuguesa (hino)|31-8-2010}} Nasceu como uma canção de cariz patriótico e foi utilizada, com uma letra ligeiramente diferente, como a marcha dos [[Revolta de 31 de janeiro de 1891|revoltosos de 31 de Janeiro de 1891]]<ref>{{citar web|url=http://www.presidencia.pt/?idc=43|titulo=Hino Nacional|data=2010|publicado=Página Oficial da Presidência da República Portuguesa|acessodata=26-9-2010}}</ref> na tentativa falhada de golpe de Estado que pretendia implantar a república em Portugal, razão pela qual o regime monárquico a proibiu.<ref name=infop2/>

Embora proclamada hino nacional em 1911, só em 4 de setembro de 1957<ref>{{citar web|url=http://jorgesampaio.arquivo.presidencia.pt/pt/republica/simbolos/pdf/diariogoverno1957.pdf|titulo=Resolução do Conselho de Ministros|data=4-9-1957|publicado=Diário da República|acessodata=31-8-2010}}</ref> foi aprovada a versão oficial que é hoje tocada em cerimónias nacionais civis ou militares e aquando da visita de chefes de estado estrangeiros, após ser ouvido o hino da nação representada.<ref name=r2010/><ref name="presidencia Hino">{{citar web|url=http://www.portugal.gov.pt/PT/GC17/PORTUGAL/SIMBOLOSNACIONAIS/ANTECEDENTESHISTORICOSDOHINONACIONAL/Pages/HinoNacional2.aspx|titulo=Antecedentes históricos do Hino Nacional|publicado=Arquivo Histórico de Portugal|acessodata=27-8-2010}}</ref>

==== O busto ====
{{Imagem múltipla|align=right||direction=vertical|image1=PRT025.JPG|width=200|image2=PRT008.JPG|caption2=Duas versões do busto em moedas da República Portuguesa: de Francisco dos Santos, em cima; de José Simões de Almeida, em baixo.<ref>{{Citar livro|sobrenome=Trigueiros|título=op. cit.|páginas=93 e 139}}</ref>}}

O busto oficial da República foi escolhido num concurso nacional promovido pela Câmara Municipal de Lisboa em 1911,<ref name="BustoCorreios">{{citar web|url=http://www2.ctt.pt/femce/category_info.jspx?shopCode=LOJV&categoryCode=8104&width=600&height=400|titulo=Bustos da República|publicado=Correios de Portugal|acessodata=1-9-2010}}</ref> do qual participaram nove escultores.<ref name="BustoCorreios"/><ref>{{citar web|url=http://dn.sapo.pt/inicio/artes/interior.aspx?content_id=1482690|titulo=A República começou por perder a cabeça a concurso -|publicado=Diário de Notícias|acessodata=1-9-2010|arquivourl=https://archive.is/20120629085046/http://dn.sapo.pt/inicio/artes/interior.aspx?content_id=1482690#|arquivodata=29 de junho de 2012|urlmorta=yes}}</ref><ref>{{citar web|url=http://www.publico.clix.pt/Pol%EDtica/busto-da-republica-nao-deve-ser-mudado-dizem-escultores_1419783|titulo=Busto da República não deve ser mudado, dizem escultores|publicado=Publico|acessodata=1-9-2010|arquivourl=https://archive.is/20120629085056/http://www.publico.clix.pt/Pol%EDtica/busto-da-republica-nao-deve-ser-mudado-dizem-escultores_1419783#|arquivodata=29 de junho de 2012|urlmorta=yes}}</ref> É da autoria de [[Francisco dos Santos]]<ref>{{citar web|url=http://www.parlamento.pt/VisitaVirtual/Paginas/PPerdidosBustoRepublica.aspx|titulo=Busto da República - Francisco dos Santos|publicado=Assembleia da República|acessodata=1-9-2010|wayb=20101202003605|urlmorta=yes}}</ref> e está atualmente exposto na Câmara Municipal, estando o gesso original no [[Casa Pia|Centro Cultural Casapiano]], uma vez que Francisco dos Santos fora aluno da [[Casa Pia de Lisboa]]. Existe no entanto, outro busto que foi adotado como o rosto da República, da autoria de [[José Simões de Almeida (sobrinho)|José Simões de Almeida]] e criado em 1908.<ref name=busts>{{citar web|url=http://www.parlamento.pt/VisitaVirtual/Paginas/GalPresidentesBustoRepublica.aspx|titulo=Busto da República da autoria de Simões de Almeida (sobrinho)|publicado=Assembleia da República|acessodata=1-9-2010|wayb=20110203210755|urlmorta=yes}}</ref> O seu original encontra-se na Câmara Municipal de [[Figueiró dos Vinhos]].<ref name=r2010/> A modelo para este busto foi Ilda Pulga, uma jovem trabalhadora do comércio do [[Chiado]].<ref>{{citar web|url=http://chaodeareia.agcolares.org/2010/02/vale-a-pena-conhecer-a-historia-do-busto-da-republica-ilga-pulga/|titulo=Vale a pena conhecer... a história do busto da República (Ilga Pulga)|publicado=Chão de Areia, Jornal Digital do Agrupamento de Escolas da Região de Colares|acessodata=1-9-2010|wayb=20101013160529|urlmorta=yes}}</ref><ref>{{citar web|url=http://www.publico.pt/Pol%C3%ADtica/descendente-de-musa-inspiradora-do-busto-da-republica-imagina-que-seria-mulher-atrevida_1419728|titulo=Descendente de "musa" inspiradora do busto da República imagina que seria "mulher atrevida"|publicado=publico.pt|acessodata=1-8-2010|wayb=20101002144852|urlmorta=yes}}</ref> Segundo o jornalista [[António Valdemar]], que quando se tornou presidente da [[Academia Nacional de Belas-Artes]] mandou o escultor João Duarte restaurar o busto original que se encontrava numa arrecadação da instituição: {{quote2|O Simões achou piada à cara da rapariga e convidou-a para ser modelo. A mãe disse que autorizava mas com duas condições: que ela própria estivesse presente nas sessões e que a filha não se despisse.|António Valdemar<ref name=pub2/>}} O busto mostra a República com um [[barrete frígio]], influência da [[Revolução Francesa]].<ref name=busts/> O busto de Simões foi logo adotado pela [[Maçonaria]], foi usado nos funerais de [[Miguel Bombarda]] e de [[Cândido dos Reis]], mas aquando do concurso oficial, apesar de ser bastante popular, ficou em segundo lugar para o busto de Francisco dos Santos.<ref name=pub2/>

=== Separação entre o Estado e a Igreja ===
[[Imagem:"Expulsão dos jesuítas em 10 de Outubro de 1910" - bilhete postal com ilustração satírica alusiva às políticas anti-clericais de Afonso Costa.png|thumb|esquerda|285px|Nesta caricatura contemporânea, [[Afonso Costa]] surge no lugar do [[Sebastião José de Carvalho e Melo, marquês de Pombal|Marquês de Pombal]], numa cena semelhante à do famoso quadro de [[Louis-Michel van Loo]] e [[Claude Joseph Vernet]] representando a [[Expulsão dos jesuítas de Portugal|expulsão dos jesuítas]] no {{séc|XVIII}}]]
Uma medida controversa do [[Governo Provisório da República Portuguesa|Governo provisório]] foi a [[separação Igreja-Estado|separação entre o Estado e a Igreja]].{{ref infopedia|nlk=s|name=infop3|$lei-de-separacao-do-estado-e-da-igreja|Lei de Separação do Estado e da Igreja|8-9-2010}} O [[laicismo]] começou a ser discutido em Portugal ainda no {{séc|XIX}}, aquando das [[Conferências do Casino]] em 1871, promovidas por [[Antero de Quental]]. O movimento republicano associava a [[Igreja Católica]] à [[Monarquia]], e opunha-se à sua influência na sociedade portuguesa. A laicização da República constava como uma das principais ações a tomar no ideário e programa político do [[Partido Republicano Português|Partido Republicano]] e da Maçonaria. Em 1 de fevereiro de 1908, após o [[Regicídio de 1908|regicídio]], foi redigido um decreto contra os [[Companhia de Jesus|jesuítas]] por iniciativa do governo, que julgava poder salvar o regime atacando a Igreja, mas este nunca chegou a ser assinado pelo rei {{lknb|d=d|Manuel|II|de Portugal}}. Logo após a implantação da República, em 8 de outubro de 1910, o ministro da Justiça, [[Afonso Costa]] reinstaura as leis do [[Sebastião José de Carvalho e Melo, marquês de Pombal|Marquês de Pombal]] contra os jesuítas, e as de [[Joaquim António de Aguiar]] em relação às [[Ordem religiosa|ordens religiosas]].<ref>{{citar web|url=http://www.companhia-jesus.pt/intro/hist_port.htm|titulo=História em Portugal|publicado=Jesuítas|acessodata=2-9-2010|wayb=20100908055640|urlmorta=yes}}</ref><ref>{{citar web|url=http://www.iscsp.utl.pt/~cepp/governos_portugueses/i_republica/g._provisorio_1910-1911.htm|titulo=Governo Provisório|publicado=www.iscsp.utl.pt|acessodata=2-9-2010|wayb=20110306064530|urlmorta=yes}}</ref> Os bens e propriedade da igreja são arrolados e incorporados no estado. O juramento religioso e outros previstos nos estatutos da [[Universidade de Coimbra]] são abolidos, e as matrículas no primeiro ano da Faculdade de Teologia são anuladas, sendo também extintas as cadeiras de [[direito canónico]] e suprimido o ensino da doutrina cristã. Os feriados religiosos passam a ser dias de trabalho, mantendo-se no entanto o [[domingo]] como dia de descanso, por razões laborais. Além disso, as [[forças Armadas|forças armadas]] são proibidas de participar em solenidades religiosas. Foram, ainda, aprovadas ''leis do divórcio'' e ''da família'' que consideravam o casamento como um "contrato puramente civil".{{ref infopedia|nlk=s|name=infop4|$separacao-da-igreja-e-do-estado-em-portugal|Separação da Igreja e do Estado em Portugal (I República)|2-9-2010}}<ref>{{Citar livro|url=http://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:X6p2baTgF6MJ:www.cm-palmela.pt/NR/rdonlyres/2699A4EF-465D-4C5E-B8D7-C4544B81B2B0/39794/Escolas1Republica.pdf+i+rep%C3%BAblica+feriados&hl=pt-PT&gl=pt&pid=bl&srcid=ADGEESgiQX_K3JVo5jOIXNVsq4KyO4tBYPVvHJE_1TY4rBYOuFYJVsOOPe2wnV428CJ65mGureNqkhWEudMHBgJsgLgwd-_oA0oAlDP49ErvifqaAXhXURxRYR63bVFOsYcOcRyGUtNR&sig=AHIEtbQEGxPKYk58kXRmt3FC2TYG7Etk4Q|título=A Primeira República (1910-1926)|subtítulo=Dossier temático dirigido às Escolas|local=Palmela|editora=Rede Municipal de Bibliotecas Públicas do Concelho de Palmela|ano=2009|página=39}}</ref>

Alguns [[bispo]]s foram perseguidos, expulsos ou suspensos das suas atividades no decurso da laicização. Em reação aos vários decretos antieclesiásticos, os bispos portugueses lançaram uma [[Ação pastoral católica|pastoral]] coletiva defendendo a doutrina da igreja, mas a sua leitura foi proibida pelo governo. Apesar disso, alguns prelados continuaram a divulgar o texto, entre eles o [[bispo do Porto]], [[António Barroso]], o que levou o ministro Afonso Costa a chamá-lo a Lisboa e a destituí-lo das suas funções eclesiásticas.<ref name=infop4/>

O culminar da laicização deu-se com a aprovação da ''[[Lei da Separação do Estado das Igrejas]]'', de 20 de abril de 1911,<ref>{{citar web|url=http://www.prof2000.pt/users/avcultur/aveidistrito/boletim10/page42.htm#01a|titulo=Aveiro e o seu Distrito - n.º 10 - dezembro de 1970|publicado=www.prof2000.pt|acessodata=2-9-2010}}</ref> com uma aceitação grande por parte das classes populares e intelectuais. A lei apenas foi promulgada pela Assembleia em 1914, mas a sua implementação foi imediata após a publicação do decreto.<ref name=infop3/> A Igreja portuguesa tentou ainda reagir, classificando a lei de "injustiça, opressão, espoliação e ludíbrio", mas sem sucesso. Afonso Costa previra, mesmo, a erradicação do Catolicismo no espaço de três gerações.<ref>{{citar web|url=http://www.santuario-fatima.pt/portal/index.php?id=2554|titulo=Página Oficial|publicado=Santuário de Fátima|acessodata=2-9-2010|wayb=20081118060938|urlmorta=yes}}</ref> A aplicação da lei começou em 1 de julho de 1911, com a criação de uma "Comissão Central".<ref name=infop3/> Os hábitos talares estavam proibidos, mas o ministro da Justiça interino da altura, [[Bernardino Machado]], intimou os párocos a ministrarem os seus sacramentos. Alguns bispos continuaram a ser perseguidos, como o [[bispo da Guarda]], [[Manuel Vieira de Matos]], ou o [[patriarcado de Lisboa|patriarca de Lisboa]], [[António Mendes Bello|António Mendes Belo]].<ref name=infop4/>

=== Reconhecimento internacional ===
[[Imagem:Bernardino Machado.jpg|upright|thumb|[[Bernardino Machado]] chefiou a pasta dos estrangeiros no Governo Provisório]]
Uma das primeiras grandes preocupações do novo regime republicano foi ser reconhecido pelas restantes nações. Em 1910, a grande maioria dos [[Estado]]s [[Europa|europeus]] eram [[monarquia]]s. Apenas a [[França]], a [[Suíça]] e [[San Marino]] eram repúblicas. Por isso, o [[Ministério dos Negócios Estrangeiros]] do [[Governo Provisório da República Portuguesa|Governo Provisório]], chefiado por [[Bernardino Machado]], orientou a sua pasta segundo critérios de extrema prudência,<ref>{{Citar livro|url=http://www.cidadeimaginaria.org/bib/Portugal10-40.pdf|nome=João B|sobrenome=Serra|título=Portugal, 1910-1940 |subtítulo=da República ao Estado Novo|ano=1997|páginas=7-8}}</ref> levando-o, logo no dia 9 de outubro de 1910, a comunicar aos representantes diplomáticos em Portugal que o Governo Provisório honraria todos os compromissos internacionais assumidos pelo anterior regime.<ref>{{citar web|url=http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=00655|titulo=Comunicado de Bernardino Machado honrando todos os compromissos internacionais|publicado=Fundação Mário Soares|acessodata=23-9-2010}}</ref>

Como o [[presidente do Brasil]], marechal [[Hermes da Fonseca]], presenciou pessoalmente todo o processo de transição de regime, tendo chegado a Portugal em visita oficial quando o país ainda era uma monarquia e saído já na república,<ref>{{citar web|url=http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=040993|titulo=Bernardino Machado apresenta cumprimentos de despedida ao Presidente eleito do Brasil|publicado=Fundação Mário Soares|acessodata=23-9-2010}}</ref> não foi de estranhar que tenha sido o [[Brasil]] o primeiro país a reconhecer ''de jure'' o novo regime político português. A 22 de outubro o governo brasileiro faz chegar os votos "que o Brasil inteiro faz pela felicidade da nobre Nação Portuguesa e do seu Governo e pela prosperidade da nova República".<ref name="Brasil">{{citar web|url=http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=00705|titulo=O Brasil reconhece a República Portuguesa|publicado=Fundação Mário Soares|acessodata=23-9-2010}}</ref> No dia seguinte, seria a vez da [[Argentina]]; a 29 a [[Nicarágua]]; a 31 o [[Uruguai]];<ref name="Brasil"/> a 16 e 29 de novembro, a [[Guatemala]] e a [[Costa Rica]]; o [[Peru]] e o [[Chile]] a 5 e a 19 de dezembro; a [[Venezuela]] a 23 de fevereiro de 1911; o [[Panamá]] a 17 de março.<ref name=blogmonarq>{{citar web|url=http://monarquia.webnode.pt/news/o-reconhecimento-internacional-da-republica-portuguesa-apos-o-5-de-outubro-de-1910/|titulo=O Reconhecimento Internacional da República Portuguesa|publicado=Blog Monarquia Portuguesa|acessodata=23-9-2010}}</ref> Em junho de 1911 foi a vez dos [[Estados Unidos]].<ref>{{citar web|url=http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=040632|titulo=EUA reconhecem a República|publicado=Fundação Mário Soares|acessodata=23-9-2010}}</ref>

Pouco mais de um mês tinha passado da revolução, quando, a 10 de novembro de 1910, o [[governo britânico]] reconheceu ''de facto'' a República portuguesa, manifestando "o mais vivo desejo de [[Sua Majestade|S.M.]] Britânica de conservar-se em relações amigáveis" com Portugal. Idêntica posição foi, também, manifestada pelos governos espanhol, francês e italiano.<ref>{{citar web|url=http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=00730|titulo=Governo britânico reconhece "de facto" a República portuguesa|publicado=Fundação Mário Soares|acessodata=23-9-2010}}</ref> No entanto, reconhecimentos ''de jure'' do novo regime só surgiram após a aprovação da [[Constituição portuguesa de 1911|Constituição]] e da eleição do [[presidente da República Portuguesa|presidente da República]]. A [[França]] foi a primeira a fazê-lo a 24 de agosto de 1911,<ref>{{citar web|url=http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=01285|titulo=A França reconhece "de jure" a República Portuguesa|publicado=Fundação Mário Soares|acessodata=23-9-2010}}</ref> dia da eleição do primeiro presidente da República Portuguesa. Só a 11 de setembro o [[Reino Unido]] fez o seu reconhecimento, acompanhado da [[Alemanha]], do [[Império Austro-Húngaro]],<ref>{{citar web|url=http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=01306|titulo=A Grã-Bretanha reconhece "de jure" a República Portuguesa|publicado=Fundação Mário Soares|acessodata=23-9-2010}}</ref> da [[Dinamarca]], da [[Espanha]], da [[Itália]] e da [[Suécia]]. Seguiram-se a 12, a [[Bélgica]], a [[Holanda]] e a [[Noruega]]; a 13 a [[China]] e o [[Japão]]; a 15 a [[Grécia]]; a 30 a [[Rússia]];<ref>{{citar web|url=http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=01309|titulo=Reconhecimento internacional|publicado=Fundação Mário Soares|acessodata=23-9-2010}}</ref> a 23 de outubro a [[Roménia]]; a 23 de novembro o [[Império Otomano]]; a 21 de dezembro o [[Mónaco]]; e a 28 de fevereiro de 1912 o [[Tailândia|Reino do Sião]]. Em virtude da tensão criada entre a jovem República e a [[Igreja Católica]], as relações com a [[Santa Sé]] ficaram suspensas, não procedendo a cúria romana ao reconhecimento da República Portuguesa até 29 de junho de 1919.<ref name=blogmonarq/>

== Ver também ==
*[[Lista de presidentes da República Portuguesa]]
*[[Monarquia do Norte]]

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{{Referências}}

== Fontes e bibliografia ==
{{InícioRef|colwidth=35em}}
* {{Citar livro|sobrenome=AA. VV|título=A Maçonaria e a Implantação da República |subtítulo=Documentos Inéditos (Simões Raposo/Carvalhão Duarte)|local=Lisboa|editora=Grémio Lusitano e Fundação Mário Soares|ano=2009|isbn=9789728885212}}
* {{Citar livro|sobrenome=AA. VV|título=Revolta Militar no Porto em 31 de Janeiro de 1891 |subtítulo=Os Conselhos de Guerra o Respectivas Sentenças|local=Porto|editora=-|ano=1891}}
* {{Citar livro|url=http://www.gutenberg.org/etext/26777|nome=Jorge de|sobrenome=ABREU|título=A Revolução Portugueza |subtítulo=O 5 de Outubro (Lisboa 1910)|local=Lisboa|editora=Casa Alfredo David|ano=1912}} {{ebook|26777}}
* {{Citar livro|nome=Augusto Ferreira do|sobrenome=AMARAL|título=A Aclamação e D. Manuel II|local=Lisboa|editora=-|ano=1966}}
* {{Citar livro|nome=António de|sobrenome=ARAÚJO|título=Jesuítas e Antijesuítas no Portugal Republicano|local=Lisboa|editora=Roma Editora|ano=2008|isbn=9789728490515}}
* {{Citar livro|nome=Stéphane|sobrenome=BERN|título=Eu, Amélia, Última Rainha de Portugal|local=Porto|editora=Livraria Civilização Editora|ano=1999|isbn=9789722615457}}
* {{Citar livro|nome=Tomás de Melo|sobrenome=BREYNER|título=Diário de um Monárquico, 1908-1910|local=Porto|editora=-|ano=1993}}
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* {{Citar livro|nome=António|sobrenome=VENTURA|título=A Carbonária em Portugal, 1897-1910|local=Lisboa|editora=Livros Horizonte|ano=2008|isbn=9789722415873}}
* {{Citar livro|nome=Artur|sobrenome=VILLARES|título=As Congregações Religiosas em Portugal (1901-1926)|local=Lisboa|editora=Fundação Calouste Gulbenkian|ano=2003|isbn=972311027X}}
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== Ligações externas ==
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* {{Citar web|url=http://www.centenariorepublica.pt/|datali=2020|wayb=20100825022030|título=Página oficial do Centenário da República (1910-2010)}}
* [http://www.centenariodarepublica.org/ Centenário da República.org]
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