Catulo 16: diferenças entre revisões
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'''''Pedicabo ego vos et irrumabo''''' é o primeiro [[verso]], por vezes usado como o título, de ''Carmen 16'' na coleção de [[poema]]s de [[Caio Valério Catulo]] ({{circa}} [[84 a.C.]] – [[54 a.C.]]). O poema, escrito em [[Métrica (poesia)|métrica]] [[hendecassílabo|hendecassílaba]], foi considerado tão explícito que uma tradução completa em [[Língua inglesa|inglês]] só foi publicada no final do [[século XX]].<ref>[http://digitalcommons.unl.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1001&context=classicsfacpub#search=%22Furius%20and%20Aurelius%22 "Catullus Purified: A Brief History of Carmen 16"]</ref> O primeiro verso foi chamado de "uma das expressões mais sujas já escritas em latim".<ref>[http://www.telegraph.co.uk/culture/6649756/Mark-Lowe-is-right-The-Romans-said-it-better.html "Mark Lowe is right: The Romans said it better"]. ''The Guardian'', 25 de novembro de 2009</Ref> |
'''''Pedicabo ego vos et irrumabo''''' é o primeiro [[verso]], por vezes usado como o título, de ''Carmen 16'' na coleção de [[poema]]s de [[Caio Valério Catulo]] ({{circa}} [[84 a.C.]] – [[54 a.C.]]). O poema, escrito em [[Métrica (poesia)|métrica]] [[hendecassílabo|hendecassílaba]], foi considerado tão explícito que uma tradução completa em [[Língua inglesa|inglês]] só foi publicada no final do [[século XX]].<ref>[http://digitalcommons.unl.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1001&context=classicsfacpub#search=%22Furius%20and%20Aurelius%22 "Catullus Purified: A Brief History of Carmen 16"]</ref> O primeiro verso foi chamado de "uma das expressões mais sujas já escritas em [[latim]]".<ref>[http://www.telegraph.co.uk/culture/6649756/Mark-Lowe-is-right-The-Romans-said-it-better.html "Mark Lowe is right: The Romans said it better"]. ''The Guardian'', 25 de novembro de 2009</Ref> |
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''Carmen 16'' é significante na história da literatura não só como obra artística censurada por sua obscenidade, mas também pelo fato |
''Carmen 16'' é significante na história da literatura não só como obra artística censurada por sua obscenidade, mas também pelo fato de o poema levantar questões a respeito da relação mais apropriada do poeta, ou sua vida, com seu trabalho.<ref>[http://timesonline.typepad.com/dons_life/2009/11/pedicabo-ego-vos-et-irrumabo-what-was-catullus-on-about.html "Pedicabo ego vos et irrumabo: what was Catullus on about?"]. ''Times'', 25 de novembro de 2009</ref> Poetas latinos posteriores referiram-se ao poema não por seu caráter invectivo, mas por servir como justificativa para tratar de um tema que desafiava o decoro ou ortodoxia moral prevalecente. [[Ovídio]], [[Caio Plínio Cecílio Segundo|Plínio o Jovem]], [[Marcial]] e [[Apuleio]] evocaram a autoridade de Catulo em definir que, apesar do poeta ter de ser uma pessoa respeitável, sua obra não deve ser constrita ou limitada.<ref>Ovídio, ''Tristia'' 2.353–354</ref><ref>Plínio o Jovem, ''Epistulae'' 4.14</ref><ref>Marcial, ''Epigramas'' 1.36.10–11</ref><ref>Apuleio, ''Apologia'' 11.3</ref> |
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== Contexto social e literário == |
== Contexto social e literário == |
Revisão das 02h33min de 8 de março de 2011
Pedicabo ego vos et irrumabo é o primeiro verso, por vezes usado como o título, de Carmen 16 na coleção de poemas de Caio Valério Catulo (c. 84 a.C. – 54 a.C.). O poema, escrito em métrica hendecassílaba, foi considerado tão explícito que uma tradução completa em inglês só foi publicada no final do século XX.[1] O primeiro verso foi chamado de "uma das expressões mais sujas já escritas em latim".[2]
Carmen 16 é significante na história da literatura não só como obra artística censurada por sua obscenidade, mas também pelo fato de o poema levantar questões a respeito da relação mais apropriada do poeta, ou sua vida, com seu trabalho.[3] Poetas latinos posteriores referiram-se ao poema não por seu caráter invectivo, mas por servir como justificativa para tratar de um tema que desafiava o decoro ou ortodoxia moral prevalecente. Ovídio, Plínio o Jovem, Marcial e Apuleio evocaram a autoridade de Catulo em definir que, apesar do poeta ter de ser uma pessoa respeitável, sua obra não deve ser constrita ou limitada.[4][5][6][7]
Contexto social e literário
Catulo destina o poema a dois homens, Furius e Aurelius. Furius refere-se a Marcus Furius Bibaculus, um poeta do século I que teve um caso com Juventius, namorado de Catulo, enquanto Aurelius refere-se a Marcus Aurelius Cotta Maximus Messalinus, um cônsul ou senador durante a Dinastia Júlio-Claudiana. Aparentemente, Furius e Aurelius consideram os versos de Catulo molliculi ("suaves demais"). Catulo responde então com invectivas e abusos intensos.[8][9][10]
Texto em latim e tradução
Verso | Texto em latim | Tradução para o português[11] |
---|---|---|
1 | Pedicabo ego vos et irrumabo, | Meu pau no cu, na boca, eu vou meter-vos, |
2 | Aureli pathice et cinaede Furi, | Aurélio bicha e Fúrio chupador, |
3 | qui me ex versiculis meis putastis, | que por meus versos breves, delicados, |
4 | quod sunt molliculi, parum pudicum. | me julgastes não ter nenhum pudor. |
5 | Nam castum esse decet pium poetam | A um poeta pio convém ser casto |
6 | ipsum, versiculos nihil necessest (necesse est); | ele mesmo, aos seus versos não há lei. |
7 | qui tum denique habent salem ac leporem, | Estes só tem sabor e graça quando |
8 | si sunt molliculi ac parum pudici | são delicados, sem nenhum pudor, |
9 | et quod pruriat incitare possunt, | e quando incitam o que excite não |
10 | non dico pueris, sed his pilosis | digo os meninos, mas esses peludos |
11 | qui duros nequeunt movere lumbos. | que jogo de cintura já não tem |
12 | Vos, quod milia multa basiorum | E vós, que muitos beijos (aos milhares!) |
13 | legistis, male me marem putatis? | já lestes, me julgais não ser viril? |
14 | Pedicabo ego vos et irrumabo. | Meu pau no cu, na boca, eu vou meter-vos. |
Notas e referências
- ↑ "Catullus Purified: A Brief History of Carmen 16"
- ↑ "Mark Lowe is right: The Romans said it better". The Guardian, 25 de novembro de 2009
- ↑ "Pedicabo ego vos et irrumabo: what was Catullus on about?". Times, 25 de novembro de 2009
- ↑ Ovídio, Tristia 2.353–354
- ↑ Plínio o Jovem, Epistulae 4.14
- ↑ Marcial, Epigramas 1.36.10–11
- ↑ Apuleio, Apologia 11.3
- ↑ Love and Betrayal: A Catullus Reader. Arnold, Bruce; Aronson, Andrew; Lawall, Gilbert, Teri. (2000)
- ↑ Furius
- ↑ Aurelius
- ↑ O livro de Catulo, pág. 80. João Angelo Oliva Neto. EdUSP. ISBN 9788531403385 (1996)