Ramal da Lousã: diferenças entre revisões
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Como tinha sido previsto aquando da construção da linha, o traçado seguido, pelo centro da cidade, apresentou-se como um estorvo ao elevadíssimo volume de trânsito naquela zona, especialmente na Década de 1930.<ref name=Gazeta1087/> Por outro lado, verificava-se, naquela altura, uma insuficiência em termos de infra-estruturas de exploração e gestão do material circulante, como armazéns de mercadorias e oficinas, que servissem o ramal; para suprir estas deficiências, foi construída a [[Estação de Coimbra|Estação Nova]], que, no entanto, não pôde melhorar muito a situação, devido à falta de espaço disponível.<ref name=Gazeta1087/> Um terceiro ponto prendia-se com as instâncias militares, que exigiam estruturas apropriadas para o transporte em massa de tropas e material de guerra, caso fosse necessário utilizar o ramal na defesa do país.<ref name=Gazeta1087/> Assim, planeou-se construir uma estação central própria para o ramal, com todas as infra-estruturas necessárias à sua operação e para as então planeadas expansões e ramais, que formariam a rede ferroviária do Mondego.<ref name=Gazeta1087/> A localização mais provável para esta nova interface seria no Vale de Coselhas, entre as pedreiras de Ingote e o Sítio do Arco Pintado, a cerca de 500 metros de distância da Estação de Coimbra-B.<ref name=Gazeta1087/> A via passaria a Norte e a Este da cidade universitária, e a Sul de [[Tovim]], entroncando com o traçado antigo junto ao Túnel da Portela.<ref name=Gazeta1087>{{Citar periódico|data=1 de Abril de 1933|titulo=A Defesa do País e a Rede Ferroviária da Bacia do Mondego|jornal=Gazeta dos Caminhos de Ferro|volume=46|numero=1087|paginas=199, 201|url=http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/GazetaCF/1933/N1087/N1087_master/GazetaCFN1087.pdf|acessadoem=26 de Setembro de 2012|autor=URBANO, Abel}}</ref> |
Como tinha sido previsto aquando da construção da linha, o traçado seguido, pelo centro da cidade, apresentou-se como um estorvo ao elevadíssimo volume de trânsito naquela zona, especialmente na Década de 1930.<ref name=Gazeta1087/> Por outro lado, verificava-se, naquela altura, uma insuficiência em termos de infra-estruturas de exploração e gestão do material circulante, como armazéns de mercadorias e oficinas, que servissem o ramal; para suprir estas deficiências, foi construída a [[Estação de Coimbra|Estação Nova]], que, no entanto, não pôde melhorar muito a situação, devido à falta de espaço disponível.<ref name=Gazeta1087/> Um terceiro ponto prendia-se com as instâncias militares, que exigiam estruturas apropriadas para o transporte em massa de tropas e material de guerra, caso fosse necessário utilizar o ramal na defesa do país.<ref name=Gazeta1087/> Assim, planeou-se construir uma estação central própria para o ramal, com todas as infra-estruturas necessárias à sua operação e para as então planeadas expansões e ramais, que formariam a rede ferroviária do Mondego.<ref name=Gazeta1087/> A localização mais provável para esta nova interface seria no Vale de Coselhas, entre as pedreiras de Ingote e o Sítio do Arco Pintado, a cerca de 500 metros de distância da Estação de Coimbra-B.<ref name=Gazeta1087/> A via passaria a Norte e a Este da cidade universitária, e a Sul de [[Tovim]], entroncando com o traçado antigo junto ao Túnel da Portela.<ref name=Gazeta1087>{{Citar periódico|data=1 de Abril de 1933|titulo=A Defesa do País e a Rede Ferroviária da Bacia do Mondego|jornal=Gazeta dos Caminhos de Ferro|volume=46|numero=1087|paginas=199, 201|url=http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/GazetaCF/1933/N1087/N1087_master/GazetaCFN1087.pdf|acessadoem=26 de Setembro de 2012|autor=URBANO, Abel}}</ref> |
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No Decreto 18:190, ficou definido que a ''Linha de Arganil'' ligaria a [[Estação de Coimbra-B]] a [[Estação de Santa Comba Dão|Santa Comba Dão]], passando por Miranda do |
No Decreto 18:190, ficou definido que a ''Linha de Arganil'' ligaria a [[Estação de Coimbra-B]] a [[Estação de Santa Comba Dão|Santa Comba Dão]], passando por Miranda do Corvo, Lousã, Góis, Arganil e [[Espariz]]; nesta última localidade, partiria a ''Linha de Gouveia'', que deveria terminar em [[Viseu]], com estações em [[Torrozelo]], [[São Romão (Seia)|São Romão]], [[Seia]], [[Gouveia]] e [[Mangualde]].<ref>PORTUGAL. [http://dre.pt/pdf1sdip/1930/04/08300/06580665.pdf Decreto n.º 18:190, de 28 de Março de 1930]. Ministério do Comércio e Comunicações - Direcção Geral de Caminhos de Ferro - Divisão Central e de Estudos - Secção de Expediente. Publicado no [http://dre.pt/pdfgratis/1930/04/08300.pdf Diário do Governo n.º 83, Série I, de 10 de Abril de 1930]</ref> A Linha de Arganil constituiria a espinha dorsal da rede ferroviária na zona entre os Rios Douro e Tejo, embora tivessem sido identificados alguns erros no traçado já construído.<ref name=Gazeta1086>{{Citar periódico|data=16 de Março de 1933|titulo=A Defesa do País e a Rede Ferroviária da Bacia do Mondego|jornal=Gazeta dos Caminhos de Ferro|volume=46|numero=1086|paginas=169|url=http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/GazetaCF/1933/N1086/N1086_master/GazetaCFN1086.pdf|acessadoem=29 de Maio de 2013|autor=URBANO, Abel}}</ref> |
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Em Abril de 1931, uma comissão foi formada para decidir o tipo de bitola a utilizar na linha.<ref name=Gazeta1058/> Nos inícios de 1932, uma delegação, formada por representantes das autarquias de Arganil, Góis, Oliveira do Hospital, Santa Comba Dão e Tábua, foi recebida pelo Ministro do Comércio, [[Antunes Guimarães]], requisitando a continuação da linha até Arganil; pediram, igualmente, para que se chegasse a uma decisão sobre o tipo de bitola a utilizar, e comprometeram-se a aceitar a bitola métrica, caso fosse mais prática e rápida de construir.<ref name=Gazeta1087/> Em resposta, o Ministro assegurou que iria recomendar uma maior urgência à comissão técnica que estava a estudar o assunto, mas declarou que a construção não seria, para já, possível, devido à magnitude da obra, superior aos recursos do Fundo Especial de Caminhos de Ferro, que tinha sido reduzido devido à diminuição do tráfego ferroviário, e que iria ser necessário para a renovação da via nalguns troços dos antigos [[Caminhos de Ferro do Estado]]; previu, no entanto, um novo aumento naquele fundo, devido à melhoria da situação económica e à reorganização do transporte ferroviário.<ref name=Gazeta1058>{{Citar periódico|data=16 de Janeiro de 1932|titulo=Linhas portuguesas|jornal=Gazeta dos Caminhos de Ferro|volume=45|numero=1058|paginas=54|url=http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/GazetaCF/1932/N1058/N1058_master/GazetaCFN1058.pdf|acessadoem=26 de Setembro de 2012}}</ref> |
Em Abril de 1931, uma comissão foi formada para decidir o tipo de bitola a utilizar na linha.<ref name=Gazeta1058/> Nos inícios de 1932, uma delegação, formada por representantes das autarquias de Arganil, Góis, Oliveira do Hospital, Santa Comba Dão e Tábua, foi recebida pelo Ministro do Comércio, [[Antunes Guimarães]], requisitando a continuação da linha até Arganil; pediram, igualmente, para que se chegasse a uma decisão sobre o tipo de bitola a utilizar, e comprometeram-se a aceitar a bitola métrica, caso fosse mais prática e rápida de construir.<ref name=Gazeta1087/> Em resposta, o Ministro assegurou que iria recomendar uma maior urgência à comissão técnica que estava a estudar o assunto, mas declarou que a construção não seria, para já, possível, devido à magnitude da obra, superior aos recursos do Fundo Especial de Caminhos de Ferro, que tinha sido reduzido devido à diminuição do tráfego ferroviário, e que iria ser necessário para a renovação da via nalguns troços dos antigos [[Caminhos de Ferro do Estado]]; previu, no entanto, um novo aumento naquele fundo, devido à melhoria da situação económica e à reorganização do transporte ferroviário.<ref name=Gazeta1058>{{Citar periódico|data=16 de Janeiro de 1932|titulo=Linhas portuguesas|jornal=Gazeta dos Caminhos de Ferro|volume=45|numero=1058|paginas=54|url=http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/GazetaCF/1932/N1058/N1058_master/GazetaCFN1058.pdf|acessadoem=26 de Setembro de 2012}}</ref> |
Revisão das 15h39min de 11 de setembro de 2015
O Ramal da Lousã, igualmente conhecido como Linha de Arganil, é um troço ferroviário de bitola ibérica, que liga a Estação Ferroviária de Coimbra-B, na Linha do Norte, à Estação Ferroviária de Coimbra, no centro da cidade de Coimbra, em Portugal. Foi inaugurado pela Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses, com o nome de Ramal de Coimbra, em 18 de Outubro de 1885[1], tendo sido prolongada até à Lousã em 16 de Dezembro de 1906, e a Serpins em 10 de Agosto de 1930.[2] No dia 4 de Janeiro de 2010, foi encerrado o tráfego ferroviário no troço além da Estação de Coimbra, passando o serviço a ser assegurado por autocarros[3] Na sua extensão total, o ramal atingia os 36,9 quilómetros.
Caracterização
Material circulante
Um dos principais elementos de material circulante que asseguraram os serviços nesta ligação foram as automotoras da Série 0300.[4] Também prestaram serviços no ramal as automotoras da Série 0750[5], e as locotractoras da Série 1100.[6]
História
Planeamento e construção do Ramal de Coimbra
Uma lei publicada em 26 de Janeiro de 1876, ordenou que a Linha da Beira Alta deveria começar na Estação de Coimbra na Linha do Norte e terminar na fronteira com Espanha, passando por Santa Comba Dão; no entanto, surgiram vários problemas com este projecto, tendo uma nova lei, de 23 de Março de 1878, alterado o local de entroncamento para a Pampilhosa.[1] Desta forma, Coimbra perdeu a ligação directa à Linha da Beira Alta, pelo que, para compensar a cidade, a companhia construtora deveria instalar uma nova ligação ferroviária até à urbe, que também deveria ser um entreposto fluvial, para as mercadorias da Beira poderem seguir o Rio Mondego até ao Porto da Figueira da Foz; no entanto, em 1882, esta obra ainda não se tinha sequer iniciado, devido a conflitos entre a Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses da Beira Alta e o estado português, por este ter autorizado, por uma lei de 2 de Maio desse ano, a Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses a construir a Linha do Leste, cuja operação iria prejudicar os interesses da Companhia da Beira Alta.[1] Os direitos para a construção e gestão do ramal foram, assim, passados para a Companhia Real em 1883, que o inaugurou em 18 de Outubro de 1885[1], com o nome de Ramal de Coimbra.[7] A construção deste ramal foi duramente criticada, no entanto, pelos seus efeitos nefastos no desenvolvimento urbano na margem do Rio, e por condenar a futura continuação até à Lousã a um traçado menos racional.[8]
Formação da Companhia do Mondego
Os direitos de construção e gestão de uma ligação ferroviária entre Coimbra e Arganil foram atribuídos à Companhia do Caminho de Ferro do Mondego, pelos alvarás régios de 10 de Setembro de 1887 e 8 de Novembro de 1888; o primeiro firmou uma bitola de 1 metro para este caminho de ferro, tendo o segundo alterado a bitola para 1,67 metros.[2] Ficou, igualmente, estabelecido que a linha deveria estar totalmente construída dois anos após a aprovação do projecto.[9] A Companhia foi formada oficialmente em 12 de Novembro de 1888, enquanto que o projecto definitivo para esta linha foi aprovado por por uma portaria de 11 de Janeiro do ano seguinte.[2] A alteração de bitola foi criticada, pois previa-se que a utilização de via larga iria tornar a construção mais difícil e dispendiosa, especialmente no troço da Lousã a Arganil.[10]
Falência da Companhia do Caminho de Ferro do Mondego
Desde o princípio das obras que existiram conflitos contra os habitantes e a imprensa de Coimbra, que contestaram o traçado original, pelo Vale de Coselhas[11]; o traçado alternativo, pelo centro da cidade, também levantou protestos, uma vez que se previa um grande desenvolvimento do trânsito nas artérias atravessadas pela linha.[8]
Estas disputas resultaram em vários atrasos na construção, e, consequentemente, de prejuízos para a empresa, pelo que, quando surgiu uma crise económica, a situação financeira da Companhia deteriorou-se a ponto dos trabalhos terem de ser interrompidos[11], quando já se encontravam bastante avançados, na primeira secção.[2] Outra razão apontada para a suspensão das obras prendeu-se com os vários conflitos que a Companhia tinha com o empreiteiro.[2] Nessa altura, já tinham sido gastos mais de um milhão de réis na construção.[9] Em 24 de Outubro de 1895, o Tribunal do Comércio de Lisboa concedeu à Companhia a cessação de pagamentos, como tinha sido requerido.[9]
A Companhia do Mondego requereu ao governo, por diversas vezes, o adiamento do prazo para a conclusão deste caminho de ferro, o que lhe foi concedido, após um parecer positivo da Junta Consultiva de Obras Públicas e Minas; o último prazo foi fixado em 31 de Outubro de 1896, mas com a condição da Companhia realizar algumas reparações no troço já construído, e modificações nas vias públicas.[9] A Companhia entrou, no entanto, em falência no dia 18 de Fevereiro de 1897[2], por sentença do Tribunal do Comércio[9]; ao abrigo da lei de 9 de Novembro de 1893, esta empresa passou, então, a ser dirigida por um conselho fiscal, formado por representantes dos credores, do Governo e da própria Companhia.[9]
Em 1902, o conselho fiscal solicitou o apoio do chefe do Partido Progressista, José Luciano de Castro, para obter uma rápida deliberação do governo sobre os projectos que estavam a ser discutidos para a conclusão desta ligação ferroviária[12]; nesse ano, as obras ainda se encontravam suspensas, e as infra-estruturas estavam a começar a degradar-se.[13]
Em Março do ano seguinte, já tinha sido acordado, entre a Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses e a Companhia do Caminho de Ferro do Mondego, que a exploração da linha seria entregue à Companhia Real, depois de ter sido construída; previa-se, assim, que as obras seriam brevemente retomadas.[14]
Desde a tomada de posse que o conselho fiscal tentou chegar a um acordo com o empreiteiro, a Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses e os credores, tendo chegado, após várias tentativas, a uma solução: a Companhia do Mondego iria emitir 350 mil réis nominais de obrigações de 5%, amortizáveis num prazo de 25 anos, e aplicar o produto desta emissão nas obras de conclusão da primeira secção da linha, no pagamento de várias despesas urgentes, e na aquisição de materiais para o empreiteiro.[9] Por seu lado, a Companhia Real iria explorar a linha por 25 anos, recebendo, pelo serviço de exploração, 500$000 réis por ano e quilómetro, e o empreiteiro iria entregar os materiais existentes.[9] Para garantir a colocação das obrigações, o conselho fiscal solicitou uma garantia inferior a 3%, pelo que levou um projecto de lei à Câmara dos Deputados.[9]
Este projecto de lei foi apresentado pelo Ministro das Obras Públicas, e votado, com uma ligeira alteração, na sessão nocturna da Câmara dos Deputados de 11 de Maio de 1903.[9] Este diploma tinha como propósito autorizar o governo a adiantar, anualmente, 10:500$000 réis à Companhia do Mondego, pelo Fundo Especial de Caminhos de Ferro; este montante era necessário para, junto com o rendimento líquido da exploração do Caminho de Ferro de Coimbra a Arganil, alcançar a quantia de 24:883$375 réis, correspondente à anuidade necessária para o juro de 5% e a amortização, em 25 anos, de um empréstimo de 250:000$000 réis em obrigações, a serem emitidas pela Companhia.[9] No entanto, ao subsídio teriam de ser retirados os impostos de selo e de trânsito, avaliados em cerca de 2:000$000 réis por ano, reduzindo o valor para 8:500$000 réis.[9]
Este processo era indispensável para concluir a construção da linha, e tornar definitivo o contrato anterior, realizado com a Companhia Real.[9] Quando o rendimento quilométrico da linha se apresentasse superior a 1:327$758 réis, o governo deixaria de auxiliar a Companhia, uma vez que a partir desse valor já se assumiria que teria rendimentos próprios para assegurar os encargos; e quando atingisse um valor superior à anuidade das obrigações, começaria a reembolsar o Estado pelas quantias entregues, com um juro de 5%.[9]
Em 22 de Novembro de 1904, foi assinado um novo contrato com a Companhia Real, passando esta empresa a construir e explorar a linha.[2]
Inauguração da linha até à Lousã
Em Março do ano seguinte, as obras já tinham sido retomadas, estando em construção os troços junto a Portela, Carroulo e Treniva, e estava-se a trabalhar na ligação entre a ponte da Portela e o viaduto de passagem para as Torres.[15] Em Agosto, já se tinha iniciado a extracção de areia do Rio Mondego, para ser utilizada nos trabalhos de balastragem, e já tinham começado as obras na estrada da Beira.[16]
A abertura à exploração até à Lousã foi realizada no dia 16 de Dezembro de 1906, pela Companhia Real.[2]
Troço entre Lousã e Serpins
O Decreto 8:910, publicado pelo Ministério do Comércio e Comunicações em 8 de Junho de 1923, concedeu à Companhia do Caminho de Ferro do Mondego uma garantia de juro de 7%, para a emissão de um empréstimo, e respectiva amortização, para construir o então denominado Caminho de Ferro de Lousã a Arganil.[17] Este documento também estabeleceu que, após a abertura, a exploração deveria ser feita pela Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses, e a construção deveria ser feita em duas secções, sendo a primeira entre a Estação da Lousã e a margem esquerda do Rio Ceira, junto à Estrada Distrital n.º 106, e a segunda secção, desde este ponto, até Arganil.[17]
A construção iniciou-se na Lousã, em Agosto de 1924[2], estando, em Julho de 1926, ainda em construção o troço entre Lousã e Góis.[18] Em Setembro, esperava-se que a linha chegasse à margem esquerda do Rio Ceira em meados do ano seguinte[19], e, em Novembro, foi aprovado o projecto de construção da Ponte de Serpins, sobre o Rio Ceira.[20]
No entanto, o elevado custo de construção em via larga, superior aos recursos disponíveis, não permitiu que a linha chegasse a Góis, até 1926; assim, voltou-se a considerar a modificação das vias para bitola métrica[21], tendo sido publicado, em 19 de Novembro de 1927, o decreto 14:775, que autorizou a Companhia do Mondego a alterar a bitola de via, nas linhas que já existiam, para 1 metro, sem interromper a circulação, e a utilizar esta bitola nas linhas que iriam ser construídas.[22] Este documento autorizou, igualmente, a Companhia a continuar a linha, de Arganil até Santa Comba Dão.[22] Esta directriz já tinha sido delineada no Plano da Rede na Bacia Hidrográfica do Mondego, com a Linha de Arganil a entroncar na Estação de Santa Comba Dão.[23]
Um relatório da Comissão Superior de Caminhos de Ferro do Ministério da Guerra, que foi uma das bases para a publicação do Plano Geral da Rede Ferroviária, publicado pelo Decreto 18:190, de 28 de Março de 1930, aconselhou a utilização de bitola larga nos troços de Tomar a Miranda do Corvo, e de Coimbra a Santa Comba Dão pela Lousã e Arganil, devido à funções que poderia ter na defesa do país; devido ao então preocupante panorama político que alastrava na Europa, não se podia colocar de parte a hipótese de Portugal ser invadido, motivo pelo qual existia a preocupação de manter um sistema de defesa eficaz, no qual os caminhos de ferro formavam um componente indispensável.[24] Por outro lado, o relatório do Conselho Superior de Caminhos de Ferro, que também contribuiu para o Plano, optava pelo uso de via estreita naquelas ligações.[24] Outro traçado sugerido pelos militares ligava, por via larga, o Peso da Régua ao Entroncamento, passando por Lamego, Viseu, Mangualde, Gouveia, Arganil e Tomar.[25] O governo atrasou, no entanto, a sua decisão, esperando primeiro pelo resultado de vários estudos, que deviam ser levados a cabo tão cedo quanto possível; por outro lado, também reconheceu a importância da projectada continuação de Arganil, por Espariz, a Gouveia e Viseu, de forma a ligar aquelas localidades ao Porto da Figueira da Foz.[24] Desta forma, a Linha de Arganil foi classificada sem bitola definida no Decreto 18:190[25]; o facto de não ter havido uma decisão definitiva sobre a bitola a utilizar resultou em atrasos consideráveis do processo de continuação da linha até Arganil.[24]
A abertura à exploração até Serpins foi realizada em 10 de Agosto de 1930, utilizando bitola ibérica.[2]
Variante prevista e continuação até Arganil
Como tinha sido previsto aquando da construção da linha, o traçado seguido, pelo centro da cidade, apresentou-se como um estorvo ao elevadíssimo volume de trânsito naquela zona, especialmente na Década de 1930.[8] Por outro lado, verificava-se, naquela altura, uma insuficiência em termos de infra-estruturas de exploração e gestão do material circulante, como armazéns de mercadorias e oficinas, que servissem o ramal; para suprir estas deficiências, foi construída a Estação Nova, que, no entanto, não pôde melhorar muito a situação, devido à falta de espaço disponível.[8] Um terceiro ponto prendia-se com as instâncias militares, que exigiam estruturas apropriadas para o transporte em massa de tropas e material de guerra, caso fosse necessário utilizar o ramal na defesa do país.[8] Assim, planeou-se construir uma estação central própria para o ramal, com todas as infra-estruturas necessárias à sua operação e para as então planeadas expansões e ramais, que formariam a rede ferroviária do Mondego.[8] A localização mais provável para esta nova interface seria no Vale de Coselhas, entre as pedreiras de Ingote e o Sítio do Arco Pintado, a cerca de 500 metros de distância da Estação de Coimbra-B.[8] A via passaria a Norte e a Este da cidade universitária, e a Sul de Tovim, entroncando com o traçado antigo junto ao Túnel da Portela.[8]
No Decreto 18:190, ficou definido que a Linha de Arganil ligaria a Estação de Coimbra-B a Santa Comba Dão, passando por Miranda do Corvo, Lousã, Góis, Arganil e Espariz; nesta última localidade, partiria a Linha de Gouveia, que deveria terminar em Viseu, com estações em Torrozelo, São Romão, Seia, Gouveia e Mangualde.[26] A Linha de Arganil constituiria a espinha dorsal da rede ferroviária na zona entre os Rios Douro e Tejo, embora tivessem sido identificados alguns erros no traçado já construído.[27]
Em Abril de 1931, uma comissão foi formada para decidir o tipo de bitola a utilizar na linha.[28] Nos inícios de 1932, uma delegação, formada por representantes das autarquias de Arganil, Góis, Oliveira do Hospital, Santa Comba Dão e Tábua, foi recebida pelo Ministro do Comércio, Antunes Guimarães, requisitando a continuação da linha até Arganil; pediram, igualmente, para que se chegasse a uma decisão sobre o tipo de bitola a utilizar, e comprometeram-se a aceitar a bitola métrica, caso fosse mais prática e rápida de construir.[8] Em resposta, o Ministro assegurou que iria recomendar uma maior urgência à comissão técnica que estava a estudar o assunto, mas declarou que a construção não seria, para já, possível, devido à magnitude da obra, superior aos recursos do Fundo Especial de Caminhos de Ferro, que tinha sido reduzido devido à diminuição do tráfego ferroviário, e que iria ser necessário para a renovação da via nalguns troços dos antigos Caminhos de Ferro do Estado; previu, no entanto, um novo aumento naquele fundo, devido à melhoria da situação económica e à reorganização do transporte ferroviário.[28]
Século XXI
Em 2009 iniciou-se o projecto de conversão do ramal num metropolitano de superfície, denominado Metro [do] Mondego, tendo sido implementadas as infra-estruturas de apoio ao transporte rodoviário, que substituiu o transporte ferroviário durante a conversão[29].
A adaptação da via para sistema de metropolitano de superfície iniciou-se em 2 de Dezembro de 2009, entre Serpins e Alto de São João.
O projecto do Metro do Mondego é oposto pelo Movimento de Defesa do Ramal da Lousã, um grupo que defende a modernização do material circulante e infra-estruturas no ramal[30]. Este grupo exige, ainda, o calendário das obras de requalificação, e garantias de qualidade nos transportes alternativos[31].
No dia 4 de Janeiro de 2010 foi encerrado o tráfego ferroviário neste ramal, passando o serviço a ser assegurado por autocarros[3].
Em 6 de dezembro de 2014, o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, assumiu, em Miranda do Corvo, o compromisso de candidatar ao novo quadro comunitário de apoio uma solução de mobilidade para o ramal ferroviário da Lousã, que está desativado.[32]
Ver também
Comboios em Coimbra | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
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(Serviços ferroviários pesados suburbanos e regionais de passageiros, na região de Coimbra) em operação • extinto em 2010
Linhas:
a R. Alfarelos •
f R. Figueira da Foz |
Referências
- ↑ a b c d TORRES, Carlos Manitto (1 de Janeiro de 1958). «A evolução das linhas portuguesas e o seu significado ferroviário» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 70 (1681): 9-12. Consultado em 22 de Fevereiro de 2015
- ↑ a b c d e f g h i j TORRES, Carlos Manitto (16 de Janeiro de 1958). «A evolução das linhas portuguesas e o seu significado ferroviário» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 70 (1682). 64 páginas. Consultado em 22 de Fevereiro de 2015
- ↑ a b «Ramal da Lousã - Interrupção da circulação». Comboios de Portugal. Consultado em 19 de Fevereiro de 2012 [ligação inativa]
|li=
e|datali=
redundantes (ajuda) - ↑ BRAZÃO, Carlos (1992). «CP Automotor». Madrid: Resistor, S. A. Maquetren (em espanhol). 2 (8). 29 páginas
- ↑ REIS et al, p. 166
- ↑ REIS et al, p. 116
- ↑ REIS et al, p. 12
- ↑ a b c d e f g h i URBANO, Abel (1 de Abril de 1933). «A Defesa do País e a Rede Ferroviária da Bacia do Mondego» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 46 (1087): 199, 201. Consultado em 26 de Setembro de 2012
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n CARDOSO, Soares (16 de Maio de 1903). «A linha de Arganil» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 16 (370): 159, 160. Consultado em 22 de Fevereiro de 2015
- ↑ «A Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses em 1925» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 39 (925). 197 páginas. 1 de Julho de 1926. Consultado em 7 de Março de 2012
- ↑ a b «Linhas Portuguezas» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 16 (370): 169, 170. 16 de Maio de 1903. Consultado em 24 de Setembro de 2012
- ↑ «Linhas Portuguezas» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 16 (361). 11 páginas. 1 de Janeiro de 1903. Consultado em 22 de Fevereiro de 2015
- ↑ «Balanço Ferro-viario» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 16 (361). 2 páginas. 1 de Janeiro de 1903. Consultado em 22 de Fevereiro de 2015
- ↑ «Linhas Portuguezas» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 16 (365). 75 páginas. 1 de Março de 1903. Consultado em 6 de Março de 2012
- ↑ «Linhas Portuguezas» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 18 (412). 91 páginas. 16 de Março de 1905. Consultado em 22 de Fevereiro de 2015
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- ↑ a b PORTUGAL. Decreto n.º 8:910, de 8 de Junho de 1923. Ministério do Comércio e Comunicações. Publicado no Diário da República n.º 124, Série I, de 12 de Junho de 1923
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- ↑ PORTUGAL. Decreto n.º 18:190, de 28 de Março de 1930. Ministério do Comércio e Comunicações - Direcção Geral de Caminhos de Ferro - Divisão Central e de Estudos - Secção de Expediente. Publicado no Diário do Governo n.º 83, Série I, de 10 de Abril de 1930
- ↑ URBANO, Abel (16 de Março de 1933). «A Defesa do País e a Rede Ferroviária da Bacia do Mondego» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 46 (1086). 169 páginas. Consultado em 29 de Maio de 2013
- ↑ a b «Linhas portuguesas» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 45 (1058). 54 páginas. 16 de Janeiro de 1932. Consultado em 26 de Setembro de 2012
- ↑ «INFRA-ESTRUTURAS DAS PARAGENS DOS SERVIÇOS ALTERNATIVOS». Metro do Mondego. 28 de Setembro de 2009. Consultado em 22 de Outubro de 2009
- ↑ «Viajar como sardinha enlatada no Ramal da Lousã». Diário de Coimbra. 6 de Outubro de 2009. Consultado em 22 de Outubro de 2009
- ↑ «Manifestação marcada em defesa do Ramal da Lousã». ESQUERDA. 6 de Novembro de 2009. Consultado em 7 de Novembro de 2009
- ↑ «Passos Coelho assume compromisso para solução no Ramal da Lousã». Jornal de Notícias. 6 de Dezembro de 2014. Consultado em 6 de Dezembro de 2014
Bibliografia
- REIS, Francisco Cardoso dos; GOMES, Rosa Maria; GOMES, Gilberto; et al. (2006). Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006. [S.l.]: CP-Comboios de Portugal e Público-Comunicação Social S. A. 238 páginas. ISBN 989-619-078-X
Ligações externas
- «Página oficial do Metro do Mondego»
- «Blog oficial do Movimento de Defesa do Ramal da Lousã»
- «Página oficial da Rede Ferroviária Nacional»
- «Galeria de fotografias do Ramal da Lousã, no sítio electrónico Transportes XXI»
- «Artigo sobre o Ramal da Lousã e o serviço das UDD 0450, no sítio electrónico Transportes XXI»