Lúcio Fábio Justo
Lúcio Fábio Justo | |
---|---|
Cônsul do Império Romano | |
Consulado | 102 d.C. |
Lúcio Fábio Justo (em latim: Lucius Fabius Justus) foi um senador romano nomeado cônsul sufecto no lugar de Lúcio Licínio Sura em março de 102 para completar o nundínio em abril com Lúcio Júlio Urso Serviano. É conhecido principalmente por ter sido um correspondente de Plínio, o Jovem. Tácito se dirige a ele em Dialogus de oratoribus. Segundo Ronald Syme, Justo era um jovem que desdenhava a oratória, um militar que era "uma pessoa erudita e culta [que] havia abandonado a eloquência por uma carreira de províncias e exércitos" (apesar de haver poucas evidências de Justo governando províncias ou liderando exércitos)[1].
Origem
[editar | editar código-fonte]Não existem informações exatas sobre a origem de Justo. Syme e Werner Eck acreditam que ele era oriundo de uma família senatorial da Gália Narbonense. Porém, outras autoridades citam dados epigráficos que atestam que Justo era oriundo da península Ibérica e acrescentam que há mais inscrições mencionando pessoas da gente Fábia na região: existem apenas 50 destas inscrições na Narbonense e mais de 300 na Hispânia[2]. A tese é também reforçada pelo historiador A. Kaballos[2]. Em relação à província, uma inscrição foi encontrada na Lusitânia mencionando um Fábio Justo da tribo Galéria[3]. Segundo a pesquisadora Francoise de Bosque-Plateau, Justo teria nascido na cidade de Ulia[4].
Carreira
[editar | editar código-fonte]Na correspondência de Plínio, Justo aparece mencionado em uma carta e como destinatário em outras duas. Numa carta a Vocônio Romano, na qual Plínio se regozija do desconforto sentido pelo delator Marco Aquílio Régulo depois da morte de Domiciano (96), Justo é mencionado como uma das pessoas procuradas por Régulo para intervir em seu nome junto ao próprio Plínio na esperança de evitar que este o processasse[5]. Das duas cartas escritas a Justo, a primeira é uma leve admoestação por ele não ter escrito e a segunda aparentemente foi escrita depois que Justo respondeu à primeira aceitando a explicação de que estava muito ocupado durante o verão e esperando pelo inverno, quando Justo teria mais tempo para escrever; além disto, Plínio promete enviar mais de seus próprios textos, aparentemente por solicitação de Justo[6].
Evidências sobre sua carreira só existem para o período após o seu consulado. Às vésperas da guerra dácia, Justo foi nomeado governador da Mésia Inferior no lugar de Aulo Cecílio Faustino (105)[7], que não tinha experiência militar. No mesmo ano, os romanos sofrem o ataque dos dácios; o rei Decébalo retoma a região de Banat depois sob controle romano e depois ataca a Mésia. Trajano parte de Roma em junho de 105 e, ao chegar às margens do Danúbio, enfrenta uma situação difícil pois as incursões dácias devastaram a Mésia inferior. De acordo com os relevos da Coluna de Trajano, Decébalo teria mesmo conseguido tomar posse de vários fortes auxiliares; muitos dos fortes na Valáquia são ocupados ou assediados, assim como vários construídos ao longo do Danúbio. Trajano chegou com tropas para reforçar o exército de Fábio Justo e o trabalho de reconquista dura todo o verão de 105[8][9][10]. No ano seguinte, Trajano invadiu o Reino da Dácia, que foi anexado ao Império Romano depois do suicídio de Decébalo. Justo permaneceu na região até o final da guerra, em 108[7].
Syme data as duas cartas de Plínio neste período, o que explica o motivo de ele estar sempre ocupado durante o verão[11]. Terminado seu mandato, Justo foi nomeado no mesmo ano para governar a Síria, onde permaneceu até 112[12]. Syme especula que é possível que ele tenha morrido lá e por isso não conseguiu o segundo consulado[11].
Ver também
[editar | editar código-fonte]Cônsul do Império Romano | ||
Precedido por: Trajano IV com Quinto Articuleio Peto II |
Lúcio Júlio Urso Serviano II 102 com Lúcio Licínio Sura II |
Sucedido por: Trajano V com Mânio Labério Máximo II |
Referências
- ↑ Syme, "The Friend of Tacitus", Journal of Roman Studies, 47 (1957), pp. 131-135
- ↑ a b Françoise Des Boscs-Plateaux, Un parti hispanique à Rome? ascension des élites hispaniques et pouvoir politique d'Auguste à Hadrien, 27 av. J.-C.-138 ap. J.-C. (Madrid: Casa de Velázquez, 2006), p. 535
- ↑ CIL II, 214
- ↑ Des Boscs-Plateaux, Un parti hispanique à Rome?, p. 186
- ↑ Plínio, o Jovem, Epístolas I.5.8
- ↑ Plínio, o Jovem, Epístolas I.11, VII.2
- ↑ a b Werner Eck, "Jahres- und Provinzialfasten der senatorischen Statthalter von 69/70 bis 138/139", Chiron, 12 (1982), 341-345
- ↑ Julian Bennett, Trajan. Optimus Princeps, Routledge, 1997, p. 97.
- ↑ Karl Strobel, Kaiser Traian. Eine Epoche der Weltgeschichte, Friedrich Pustet, 2010, p. 264.
- ↑ Paul Petit, Histoire générale de l'Empire romain, tome 1 - Le Haut-Empire (27 av. J.-C. - 161 ap. J.-C.), Seuil, 1974, p. 217.
- ↑ a b Syme, "Correspondents of Pliny", Historia: Zeitschrift für Alte Geschichte,34 (1985), p. 359
- ↑ Eck, "Jahres- und Provinzialfasten", pp. 346-352